terça-feira, 8 de dezembro de 2009

'Amor e amar' (por Daniel Lélis)






Tempos cruéis estes em que se relega o amor aos porões imundos das irrelevâncias. Que se retira do ato de amar todo sentido que lhe faz belo e indispensável. Pois bem, eis-me aqui, na contramão disso, a lembrar-vos da importância das duas palavras escolhidas para intitular este texto. Para tanto, resolvi defini-las. Vejamos:



O que é o amor?

O amor é...

A língua que não precisa de tradução.
A força de quem não desiste de lutar, mesmo quando tudo parece estar perdido.
A coragem de quem arrisca por acreditar em dias melhores.
O encontro das noites frias com a saudade que machuca.
A palavra amiga que consola e liberta.
O aperto de mãos firme que traz segurança nos momentos de incerteza.
A companhia desejada para as horas indesejadas.
O abraço caloroso nos dias nublados.
A solidariedade de quem se importa em ajudar quem precisa.
O sorriso ingênuo que enobrece, fascina e enche de esperança.
A lealdade valente daqueles que ousam em confiar.
São os olhos que brilham, o coração que acelera e o fôlego que nos mantém de pé.
Por fim, o amor é a razão inquestionável do nosso existir.



O que é amar?

Amar é...


Fazer e querer o bem aquele que você nem conhece.
Ser melhor que você mesmo.
Poder compreender e respeitar as diferenças.
Vencer o próprio orgulho sem perder a dignidade.
Encarar os desafios sabendo até onde podemos chegar.
Crer nos sonhos, mas ter em mente que para realizá-los, é preciso acordar.
Poder fazer o impossível acontecer.
Saber perdoar o “outro” tendo em vista que no futuro o “outro” pode ser você.
Driblar os medos e suportar as dores do jogo da vida.
Por fim, amar é viver a beleza do hoje, reconhecer a fraqueza de ontem e valorizar o que poderemos ser amanhã.



Às definições aqui apresentadas, somar-se-iam tantas outras que levaria a eternidade para descrevê-las. E não poderia ser diferente: ao que acredita no amor, sempre serão infinitas as formas de amar.


Você também encontra este texto na Jfashion, a revista de sociedade mais badalada de Tocantins.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

'Legislando em causa própria' (por Daniel Lélis)




A argumentação homofóbica (de quem tem preconceito contra homossexuais) nunca foi muito criativa, muito embora seja impregnada de ousadia e desonestidade intelectual. Certa vez fizemos um curso de capacitação para policiais militares tocantinenses, cujo tema era: Direitos Humanos e Homofobia. O evento histórico para a militância LGBT (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) do estado trouxe diversas palestras. Uma delas, com o advogado do grupo GIAMA - Grupo Ipê-Amarelo de Luta pela Livre Orientação Sexual, pioneiro no estado na luta pelos direitos humanos homossexuais. No final do evento foi dado espaço para perguntas e observações. Uma das perguntas foi justamente feita ao advogado. Inquiriu um dos policiais presentes: - O senhor por um acaso está legislando em causa própria? Pasmem, o policial, na falta de qualquer argumentação razoável, preferiu "atacar" pessoalmente o advogado, "acusando-o" deste "pecado" que é a homossexualidade. Preferiu expor a ideia de que só homossexuais defendem homossexuais. Tolice pura. O advogado respondeu a altura, dizendo que sua vida pessoal era o que menos importava, já que ele estava ali para formar mentes (ou abri-las, como preferirem) no que diz respeito a um tratamento digno a homossexuais, não para falar de suas predileções particulares, e que aquilo é dever de todos. Certíssimo. O argumento do policial é usado habitualmente por homofóbicos (quem o diga Silas Malafaia e Magno Malta!). Já vi e ouvi milhares de vezes. Mas daí eu pergunto: -e se for? E se tivermos mesmo legislando em causa própria? Não é um direito que nos assiste? Não é a forma que temos para manifestar nossas aspirações enquanto grupo social rotineiramente relegado a marginalidade? Policias legislam em causa própria quando defendem salários maiores. Pastores legislam em causa própria quando usam o microfone do Congresso Nacional para acusar homossexuais de pedófilos. E aí? Somos tão piores que não nos é dado este mínimo direito de ir atrás de novas conquistas? Se nao podemos casar, adotar e nem sequer doar sangue, cabe a quem preferencialmente (e não exclusivamente, esclareça-se) exigir que isso mude? A nós, ora, os mais interessados. E fazemos isso como? Legislando em nossa causa própria!

***

Falando nisso, está no Senado Federal projeto de lei que pretende tornar crime no Brasil a homofobia, assim como já acontece com o racismo. Trata-se do PLC 122/2006, que têm como maiores objetivos o reconhecimento da liberdade, a defesa intransigente dos direitos humanos e o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito. Os fundamentalistas religiosos, na maioria protestantes, têm anunciado o apocalipse caso o projeto seja aprovado. Ou seja, os bastiões da ética e da moralidade cristã são contrários a um projeto, que como afirmou brilhantemente André Petry, em um de seus artigos em Veja, “pretende dar aos gays (...) aquilo a que todo ser humano tem direito: respeito à sua integridade física e moral.” Como entender isso?!

Texto meu, reformulado, atualizado e publicado no Jornal Atualidade.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

DIAS DE TERROR NA MAIOR INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO NORTE DO TOCANTINS


O ITPAC/FAHESA (Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos - Faculdade de Ciências Humanas, Econômicas e da Saúde de Araguaina), maior instituição de ensino superior do norte do estado de Tocantins, vive dias de terror. Os estudantes estão amedrontados com a onda de crimes que vem sendo cometidos dentro da Instituição.
Hoje mais um episódio dessa triste realidade pode ser constatado. E eu, acadêmico do curso de Direito (6° período) fui a vítima da vez. Hoje tínhamos prova no primeiro horário. A prova seria na nossa sala (Bloco G). Contudo, em razão da super lotação, fomos obrigados a fazer a avaliação no Bloco D.Para lá fomos todos. Até aí tudo bem. Terminada a prova, voltamos todos para a nossa sala. O professor do segundo horário já se encontrava por lá. Foi quando percebi que a minha mochila estava diferente. Faltava algo. Quando abri, a ausência do notebook me assustou. Tinham o levado. Enquanto fazíamos a prova no outro pavilhão, um criminoso furtara aquele que era o meu maior instrumento de trabalho e estudo.
Falei com colegas. Indaguei os seguranças particulares. Ninguém viu nada.
Fui à coordenação. A resposta foi: "orientamos os alunos no sentido de não deixarem suas coisas dentro da sala quando lá não estiverem.". É a confissão da ineficiência. É o reconhecimento da falha. A maior instituição de ensino superior de Araguaina reconhece que não oferece a seus alunos a segurança necessária para que estes fiquem tranquilos quanto aos bens deixados em suas mediações.
Outros casos de furtos aconteceram nos últimos tempos. Há relatos de outros notebooks furtados, livros, cadernos e outros. Esse é só mais um caso entre tantos outros que tem aterrorizado os universitários do ITPAC. O estranho, e isso não se explica, é o fato de a faculdade não fazer absolutamente nada para reforçar a sua segurança. Câmeras de vigilância? Só aquelas restritas à secretaria, tesouraria, biblioteca e reprografia. As outras áreas ficam relegadas a própria sorte. Seguranças? Ninguém ver um sequer longe da parte administrativa. É mais fácil o mundo ter acabado ontem e nos estarmos vivendo um sonho, que encontrar um único segurança fazendo a vigília do bloco G.
Mais estranho ainda é a mesma se eximir da obrigação que tem com relação aos bens deixados sob a sua guarda. Como assim? De quem é a responsabilidade? Do Dalai Lama? Do Papa? Ah, tenha a santa paciência.
Fica feio para uma instituição que quer crescer protagonizar fato tão vergonhoso.
A mim, pela perda, restam lágrimas. Ao ITPAC, pela indiferença como trata a segurança de seus acadêmicos, resta a negativa de culpa. É fácil dizer que a culpa é do outro.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

'Meios e fins' (por Daniel Lélis)


Difícil encontrar alguém que não nutra o desejo de aparecer um pouquinho, de se destacar naquilo que faz; de fazer a diferença. Todo mundo sonha ou já sonhou com alguns minutos de fama. Mas quais são os limites para alcançar este objetivo? Vale tudo? Até onde podemos chegar a fim de tornar real o nosso desejo de brilhar? Teçamos algumas considerações.
Tudo tem limite. Nem tudo podemos, nem tudo devemos. Extrapolar as regras, em ultima análise, é colocar em risco todo o jogo em busca dos ideais acima mencionados. Com meios sujos temos fins doentes. É claro que é difícil fechar os olhos para grandes oportunidades mesmo quando estas tenham nobreza questionável. Contudo, mais deve valer o êxito conquistado com esforço e grandeza de espírito que aquele contaminado pelas impurezas de uma realidade muitas vezes injusta e desvalorada. Infelizmente, como muitas vezes velam-se as formas indignas de se alcançar prestígio, estas acabam por parecerem válidas. Errado. A ganância e a ambição não podem em nenhum momento justificar o atropelo ético.
Que seja feita a justiça, portanto, aos que batalham com armas nobres. E aos que, mesmo que fraquejando, insistem corajosamente em fazer do jeito certo. Estes sim são merecedores de admiração, respeito e imitação. É claro que a acepção de “certo” e “errado”, oriunda de uma convenção, é cultural e histórica. Entretanto, é inegável a existência de valores sociais que por serem indispensáveis à nossa sobrevivência, perpassam culturas e gerações. Ser solidário, por exemplo. Não é de hoje que a nossa sociedade vê como obrigação moral ser solidário com o próximo. Sendo assim, todos os aplausos e elogios a quem chegou lá por mérito, esforço e dedicação e sem desprezar os valores socialmente construídos. A quem nunca soterrou os próprios princípios em busca de espaço e reconhecimento.
Afirmo isso porque a tendência, a que percebo, infelizmente é outra. Valorizam-se os meios condenáveis e tranformam os adeptos destes em modelos de conduta. Em vez de reprovação, apreciação. Em vez de punição, mesmo que moral, leniência e conformidade. Lamentável.
Que nos firmemos na contramão dessa dolorosa realidade.

Texto publicado originalmente na Revista Jfashion.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

'O impossível não existe' (por Daniel Lélis)


A ideia que o brasileiro tem da política não poderia ser pior: “Todo político é ladrão!”. Não adianta negar, nem fechar os olhos. É fato. A visão é injusta por ser genérica, mas arrazoada e compreensível por ter amplo amparo na realidade. Ora, qual é a semana que não surge um novo escândalo político por aqui? É tão nebulosa a imagem que o brasileiro tem dos seus representantes que a palavra “corrupção” parece ter virado sinônimo de “política”. Falar desta sem mencionar aquela é evento raro. É uma pena.
É doloroso constatar que uma instituição tão antiga como a política, incumbida da valiosa missão de garantir a felicidade coletiva, tenha tomado para si um sentido tão banal, sujo e impopular. É claro que político e política não são a mesma coisa. Mas como desvincular um do outro? Ora, o político faz a política! É claro também que política não é o mesmo que politicagem. Mas como negar que esta é consequência daquela? Como separar uma da outra quando parece que uma é a outra?
No Brasil temos de tudo. Do assistencialismo disfarçado ao coronelismo pré-histórico. Do populismo mórbido ao nepotismo asqueroso. Dos acordos partidários onde valem tudo às políticas sociais que valem nada. Da desonestidade plena à canalhice despudorada. Do fisiologismo debochado a indecência de dólares na cueca. Até para o mais otimista virar esse jogo pode parecer impossível.
Desanima saber que dificilmente algum dia a imagem que se tem da política e dos políticos brasileiros irá mudar. Não há como ver diferente o que sempre se desenha igual. Somos acometidos diariamente de mais e mais denúncias contra os nossos governantes. Tanto é, que nem nos assustamos mais. A bandidagem política faz parte da paisagem assim como as estrelas do céu. Tem bandido para todos os gostos. Tem o bandido vampiro, o sanguessuga, o mensaleiro, o quadrilheiro, o bingueiro, o mafioso e tantos outros que levariam a eternidade para descrever. Em comum, o fato de raramente serem punidos. Aliás, a impunidade é o que nos diferencia das nações mais desenvolvidas. Quem disse que lá não tem ratos no poder? É claro que tem. Contudo, diferente daqui, lá eles são punidos e muitas vezes banidos para sempre da esfera política. Aqui, punição é exceção.
Não é a toa que seja difícil conter o entusiasmo quando surge um pequeno feixe de luz no fim desse túnel enlameado que é a política brasileira. Sonha-se. Vibra-se. É o que acontece quando vemos ser afastados do poder aqueles que fazem de tudo para depreciar ainda mais o já pútrido sistema representativo. Já foram três os líderes estaduais a perder o mandato este ano por conta de crimes eleitorais. Fato inédito e que deve ser comemorado. Marcelo Miranda foi o último deles. Mais dois ainda serão julgados pelo TSE. Será o fim da impunidade; desse vergonhoso convite ao crime? Não, infelizmente não podemos sonhar com isso ainda. Mas quem sabe não seja o fim dessa moléstia. O sinal de que ainda dá tempo. De que ainda tem jeito. De que ainda podemos acreditar.
Quem sabe algum dia (que espera-se não ser o de “São Nunca”, claro!), depois de amplas reformas, com a superação do conformismo e da incredulidade que de nós se apodera, com a maior conscientização política do nosso povo, com a certeza da punição aos bandidos do colarinho branco, poderemos nos orgulhar de dizer ao mundo que viramos o jogo?! Assim, não duvidaremos de mais nada. O impossível já não existirá!


Texto publicado originalmente no Jornal O ATUALIDADE.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

'Araguaina. A pobre cidade rica' (por Daniel Lélis)


Com pouco mais de meio século de existência e com uma população em torno de 114 mil habitantes, Araguaina (agora sem acento depois da reforma ortográfica), a segunda maior cidade do estado de Tocantins, é a expressão plena de uma contradição brasileira. Muito foi feito para que ela fosse escolhida como capital do estado. Não teve êxito. Contudo, acabou por herdar o título de Capital Econômica. Nada mais justo. Movida principalmente pelo setor agropecuário, mas com expansão de outros setores, Araguaina de fato ostenta a maior economia do Estado. Temos grandes empresas e faculdades que se expandem cada vez mais. Temos profissionais com reconhecido talento a nos representar. E por fim, temos um povo aguerrido que trava verdadeiras batalhas diárias em busca de um futuro melhor. Essa é a cidade rica.
Por que então seríamos uma cidade pobre? A realidade responde. O que você diria de uma cidade que tem por semanas a sede de sua prefeitura invadida por moradores locais em protesto? Redes de dormir por todos os lados. Uma lona velha em volta de um poste a servir de banheiro. Roupas estendidas pelo jardim. Esse era o cenário da sede do poder executivo municipal durante semanas. Longe de querer discutir o mérito da questão, é no mínimo constrangedor para qualquer governante ter o seu ambiente de trabalho invadido assim. Aliás, trata-se de um constrangimento não só político, mas público, uma vez que a Prefeitura é de todos nós. Uma cidade rica comportaria tal situação?
Falar de buracos por aqui é redundante. Vem governo e vai governo, e eles continuam lá. Alguns de tão largos e extensos parecem verdadeiras crateras. Quem nunca ouviu falar de Buracaína, o apelido nada carinhoso dado a cidade em razão destes detalhes tão indiscretos? É rica uma cidade afundada em buracos?
E o que dizer então do transporte público araguainense? Dentre todas as empresas que por aqui atuam, nenhuma delas é tão odiada como a Viação Lontra. Pergunte a qualquer um que precise dos seus serviços. Nada é pior. E ninguém é melhor para falar isso que eu, um usuário. Não foi uma nem duas vezes apenas que tive de esperar por mais de 1 hora um coletivo debaixo de um sol escaldante. Quando o ônibus chega, ou está lotado ou está caindo os pedaços. Ou as duas coisas. Isso sem falar da má educação e arrogância dos motoristas. Que é aquilo? Certa vez, numa das minhas angustiosas aventuras dentro de um coletivo, presenciei o motorista chamar uma moça de retardada. E tudo por uma bobagem. Foi tamanha a indelicadeza do funcionário da empresa que mesmo depois de a mesma ter descido, ele continuava a xingá-la. A tarifa aumentou. Por que será que a qualidade não aumenta? Aliás, e os terminais que construíram? Dia desses passei por um deles e vi que antes de mesmo de ser inaugurado já haviam lâmpadas destruídas. Sem falar que o lugar parece ter se tornado um banheiro público, tamanha a quantidade de fezes ali espalhadas. Estamos numa cidade rica?
Os problemas araguainenses não são diferentes dos de outras cidades do Brasil. Apontá-los e denunciá-los é um dever de todos nós. Às mazelas aqui descritas somam-se muitas outras como a precariedade da saúde e a falta de ambientes de lazer. É claro que não existe um só culpado nem uma só solução. Entretanto, se não discutirmos a fim de encontrar uma saída para cada um deles, se não cobrarmos dos agentes políticos maior empenho nesse propósito, acabaremos por fazer do conformismo a nossa maior bandeira. Ficaremos para trás. Seremos a pobre cidade pobre.


Texto publicado originalmente no Jornal O ATUALIDADE.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

'Você ainda acredita?!' (por Daniel Lélis)


Você ainda acredita que um outro Brasil é possível?
Acredita que podemos contrariar as nossas próprias previsões e nadar contra a corrente do pessimismo?
Somos o país do jeitinho, e por incrível que pareça nós mais nos orgulhamos disso do que nos envergonhamos.
A corrupção nos adoece, mas o pudor que acomete alguns inexiste em outros.
Nossos maiores gênios jogam bola. Nossos maiores heróis foram inventados.
Num país de contrastes, nem todas as cores são bem-vindas.
Zombamos da Lei, e fazemos da ética uma utopia.
Nossos fracassos nunca são só nossos. E as nossas vitórias são sempre dos outros.
Choramos a morte de inocentes, mas deveríamos mesmo era chorar era pelo nosso conformismo.
Somos o país do futuro que nunca chega.
Religiões se multiplicam por aqui, mas mais dividem do que somam.
Vendemos hipocrisia e compramos a submissão.
Feridos pela eterna decepção, muitos de nós desistem.
Outros vão atrás, e muitos chegam à frente.
A esperança, é claro, sempre há de iluminar. Mas sabemos que os desafios exigem muito mais que só esperança.
O país do carnaval dança, e dança sempre. Uma dança sem ritmo, dançada sem música, em que sobram escorregões.
Damos o poder e se apoderam de nós. Nosso voto ou é uma arma sem bala, ou é uma bala perdida.
E se as verdades doem, mentiras nos acalentam.
Se deveríamos nos enojar de muitas de nossas práticas, acabamos por vezes por fazer delas troféus. E ainda os erguemos.
Somos o país em que pessoas morrem nas filas dos hospitais, e tudo fica por isso mesmo.
Invejam-nos por sermos o país abençoado pela natureza. É, não temos furacão nem terremotos, mas temos as queimadas e a destruição acelerada daquela que é a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia. Queimam árvores, e assim como o verde, os sonhos viram fumaça.
A justiça quando caminha, caminha lentamente rumo o seu próprio descrédito.
Acreditar em dias melhores por aqui é um ato de coragem estúpido, mas necessário.
Mas ainda prefiro ser um estúpido que acredita que um colecionador de lamentos.

'As paradas da discórdia' (por Daniel Lélis)



As Paradas LGBT nunca tiveram tanta força no Brasil como hoje. Em nenhum momento tivemos tantas manifestações dessa natureza em nosso país. Seu sentido maior é promover a diversidade e o respeito a milhões de brasileiros que veem negados pelo Estado diversos direitos, como o de casar, adotar filhos e doar sangue.
Com as paradas a militância LGBT se fortaleceu, conquistou-se visibilidade e auto-afirmação. Com elas vieram também uma enxurrada de críticas. Inclusive de homossexuais. Se nunca tivemos tantas paradas, nunca também tivemos tantas críticas a elas.
Alguns dizem que as paradas perderam a razão de serem, uma vez que nosso país já parece ter livrado da doença que é a homofobia. Outros afirmam que as paradas perderam o sentido político, uma vez que é festiva, e com festa não se faz política. E vão além, ao afirmarem que as paradas promovem a visão do LGBT estereotipado, materialista, e pervertido. Ou seja, pede-se respeito, mas não se dá.
Sem críticas não se progride. Sem críticas não há avanço. Todas as que citei são merecedoras de respeito e atenção, mas pecam por sua inteira limitação.
Quem afirma que não precisamos mais de paradas porque nossa sociedade á não é mais homofóbica esquece dos milhares de assassinatos cometidos contra LGBT em todo o Brasil. E não precisa de nenhuma pesquisa questionável para provar que estamos num país extremamente homofóbico, ora. Basta ser para ver. Basta tirar os óculos escuros das conveniências. Homossexuais são sim mortos barbaramente, e muitas vezes só por serem homossexuais. Homossexuais são sim humilhados, discriminados, em nosso país, e isso é um fato. Quem se nega a enxergar isso ou é cego ou é desonesto intelectualmente. Ou as duas coisas.
Os que afirmam que as paradas perderam o sentido político tem um conceito muito raso do que é política. Acham que não se pode fazer política com festa, dança, música e alegria. Acham que política é só aquela chatice de empunhar cartazes e gritar palavras de ordem. É um engano. Politizar com dança, música e alegria é uma resposta dos novos tempos a caretice que era exalada (e ainda o é) pelos movimentos sociais.
Aos que afirmam que as paradas promovem uma visão estereotipada do LGBT, parecem ignorar que é lá que a diversidade, nua e crua, se mostra, se impõe. Sim, aquelas travestis com peitos de fora, de mini-saia, merecem sim respeito. É a liberdade de se expressar, de exigir respeito ao que somos/ao que queremos ser. Por que puni-la com desprezo? Por que censurá-la? Não é a manifestação da diversidade? Não há razão de se sentir ofendido. Quem confunde a arte de ser com promiscuidade ou coisa do gênero colabora com a visão mesquinha e machista de que se fosse mulher, em vez de vilipêndio, surgiriam elogios, invejosos ou desejosos.
Somos materialistas? Sim, somos. Mas não somos só isso. E não somos materialistas por sermos homossexuais. Isso é teoria conspiratória. Lá na parada tem milhares que odeiam o consumo, e se não aparecem, a razão é só uma: eles não chamam tanta atenção. E nem por isso merecem menos ou mais respeito.
Somos milhões de brasileiros. Somos brancos, amarelos, e negros. Somos ricos e pobres. Somos fúteis, tristes e alegres. Somos sérios e pervertidos. Somos bonitos e feios. Magros e gordos. Somos baixinhos e altos. Somos de todas as escolaridades, de todos os credos. Somos o que somos, na parada ou fora dela. Fora dela, pouca ou nenhuma liberdade. Dentro dela, a liberdade de ser, de sorrir, de se expressar. Sem medo de ser expulso, xingado ou humilhado. E enquanto precisarmos delas, não há crítica no mundo que seja capaz de tirar-lhes o mérito.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

'O meu nome é FELICIDADE' (por Daniel Lélis)


Foram 20 anos. 7300 dias. 175200 horas. Esse é o balanço de duas décadas.
Tive dias em que não acreditei que pudesse conseguir, MAS EU CONSEGUI.
Tive anos em que a amargura me contaminava, MAS EU ME CUREI.
Tive horas que pareceram séculos, MAS EU COMPREI OUTRO RELÓGIO.
Minha sede vitória já não me cega.
Minhas ideias loucas de querer mudar o mundo nem a mim convencem mais.
Sonho acordado, mas sem sair do chão.
Um amor eterno eu encontrei.
ETERNO na beleza. ETERNO na imensidão. ETERNO por me completar.
ETERNO por fazer de mim quem eu gostaria de ser.
Minha mãe já não me assusta. Pelo contrário, é dela o meu maior respeito e admiração.
É dela o maior AMOR do MUNDO.
Outros a quem me vinculo por sangue, progridem e parecem querer chegar lá.
As esperanças ainda me ENCANTAM.
Aos AMIGOS, e são tantos, ainda reservo-me a dedicar todo o meu AMOR. Aos que aconselhei, obrigado pela CONFIANÇA. Aos que me aconselharam, obrigado por me ouvir. Aos que distantes estão, a minha dolorosa saudade. Aos que comigo sempre estiveram, reservo-me o direito de AMAR para sempre.
Em cada lágrima derramada uma lição para toda a vida.
Do sofrimento nenhuma saudade.
E se é caminhando que se faz o CAMINHO, é sorrindo que se faz a ALEGRIA.
E como eu sorri!
Muito conquistei, mas sei que são infinitos os desafios.
INFINITO também é o meu desejo de ir além.
De acreditar quando tudo parecer perdido.
De não desistir quando a derrota amargar o meu coração.
FELICIDADE. Esse é o meu nome.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

'Casamentos ainda me emocionam' (por Daniel Lélis)


Podem me chamar de conservador, arcaico, reacionário, "jovem com mente de velho!". Podem me chamar do que for, mas ainda me emociono com casamentos. Seja de quem for e onde for, para mim há sim uma beleza incontestável naquele momento. Noivos, alianças, vestido, música, decoração, o "sim!", buquê (por que não?), e tudo o mais presente numa cerimônia de casamento me comove.

Seja no civil ou no religioso (ou em ambos), cada um com suas particularidades, o casamento é muito mais que um contrato ou uma instituição religiosa. Casamento é o marco de um compromisso que se quer que seja eterno. É o ápice da história de amor (ou paixão) que une duas pessoas. É formalidade que se envolta de desejos e mitos. É o brotar de uma nova família.

Segundo pesquisas, nunca tantos casamentos foram desfeitos no Brasil. Por quê? Ora, porque o casamento assim como muitos valores (que estão acima de ideologias) estão sendo deixados de lado. Banalizou-se tudo. A violência já não espanta. A corrupção não só é aceita, como é propagandeada. Ética e moral são abstrações inalcançáveis. A lealdade é atributo dos fracos. A fidelidade é utopia. O respeito precisa ser comprado.

Não espanta portanto, que o casamento tenha mesmo se tornado um ato grosseiramente antiquado, que deve ser visto com desprezo e indiferença por aqueles que contemplam uma "nova visão de mundo!". É uma pena.

É claro que a defesa que faço do casamento comporta excessões, logo não acho justo nem gracioso (embora aceito em muitas culturas. Inclusive na nossa até pouco tempo) casamentos comprados ou arranjados, que exalam machismo e oscilam entre o mal gosto e a ignorância.

Contudo, considero digno da mais árdua defesa e admiração o casamento que surgiu do consenso, do respeito, da aspiração de viver a dois. Enfim, o casamento feito do amor verdadeiro, o INCONDICIONAL.

sábado, 31 de janeiro de 2009

'É só barulho' (por Daniel Lélis)


Barulhentos e baderneiros. É assim que qualifico os movimentos juvenis em defesa dos direitos GLBT que conheço. Só gritar e espernear, sem fazer nada de concreto, há muito tempo deixou de ser um modo eficaz de conseguir qualquer coisa. Se é que algum dia já o foi. Mas não é assim que pensam os "revolucionários de shopping". Para eles, o mais importante é fazer espetáculo. É bater lata. É pinxar muro. É exigir respeito sem o tê-lo por ninguém.Partilham a maioria destes "revolucionários" do ideal de que é com a força (até a armada) que progredimos. Tolice pura. É só aquela velha mania juvenil de declinar ao falido e utópico ideário de esquerda que apregoa o combate ao imperialismo, ao capitalismo e blá-blá-blá , vitimizando-se e inventando um inimigo imaginário a ser combatido. Criaram até a idéia de que o capitalismo é que é culpado pela homofobia. Pode? Melhor não dar nome aos bois (opa boi lembra fazenda, e fazenda lembra latifundiário! E esquerdóide que se preze tem horror ao latifúndio), já que é perda de tempo, mas é necessário se fazer uma análise crítica profunda desses grupos, de modo a evitar que mais jovens caiam no descrédito por aderirem a teorias obsoletas disfarçadas de "visões inovadoras" que mais atrapalham que ajudam na hora de lutar contra a homofobia.Militância de verdade se constrói com diplomacia, urbanidade, honestidade e realismo. Sem espaço para fantasias, bagunça, extremismos e grosseria. Extremismos como o de uma "revolucionária" que certa vez desejou (e que bom que parece que ficou só no desejo mesmo) destruir a entrada de um prédio público porque ele estava fechado, e pelo que me recordo, era necessário pegar algo lá dentro para um evento. Definitivamente não é disso que precisamos.