quarta-feira, 21 de julho de 2010

'As baforadas do cinismo. Ou: os três tipos de homofóbicos mais famosos do país' (por Daniel Lélis)




Homofóbico, eu? Não, claro que não. Eu só acho que o homossexualismo é um pecado abominável, mas fique tranquilo. Se você se entregar a sua vida ao SENHOR JESUS TODO PODEROSO, logo ele a edificará e você se verá livrar dessa doença promíscua. Eu amo você, pecador! Vou orar por ti.

Identificam-se três principais tipos de homofóbicos no Brasil. O primeiro deles é o “homofóbico esperto”, que também pode ser chamado de “homofóbico canalha”. É o grupo mais perigoso para a o bem estar social, dada a sua tendência criminosa de querer dividir as pessoas. Seus argumentos são mais rebuscados. Sua retórica é quase sempre recheada de sutileza. Seus apelos são sempre mais emocionais. Sabem de cor e salteado todos os versículos da Bíblia que condenam o “homossexualismo” (insistem com o sufixo “ismo”, mesmo sabendo que este é tão ultrapassado quanto eles). Acusam, mas sabem se defender. O terrorismo psicológico é a sua principal arma. Não perdem a oportunidade de, sob o pretexto de defender as suas convicções, incitar o ódio aos homossexuais. São de uma cretinice absurda. De um cinismo absolutamente grotesco. Defendem com unhas e dentes o suposto direito que tem de ofender, discriminar e oprimir, mesmo que “sutilmente” o homossexual. Falam em nome da liberdade de expressão, mas querem mesmo é ter liberdade para pregar o preconceito em seus ninchos. Afirmam despudoradamente que os militantes homossexuais querem implantar uma “ditadura gay” no Brasil. A “ditadura da ignorância”, pelo visto, eles próprios já cuidaram de criar. O “gayzismo” (palavra caprichosamente criada pelos homofóbicos espertos), segundo eles, quer destruir a família brasileira. Parecem desconhecer o fato de que é a homofobia, essa patologia que pregam desavergonhadamente, que destrói milhares de famílias no país inteiro. Ou será que os “defensores da família” não sabem que milhares de homossexuais são expulsos todos os anos do seio de suas famílias, sendo privados de ter um mínimo de dignidade? Pertencem ao grupo dos “homofóbicos espertos” a maioria dos líderes religiosos, como Bento XVI, Cláudio Hummes, Eugenio Sales, Silas Malafaia, R.R. Soares; alguns pseudo-intelectuais, como Julio Severo e Ziraldo,  e, é claro, muitos políticos, como Magno Malta, Garotinho, Marcelo Crivella, Carlos Apolinário, Eduardo Cunha, Edino Fonseca. O discurso que inaugura o texto, sutil, mas depravado, como se percebe, pertence a essa curiosa espécie homofóbica.
O segundo tipo de homofóbico, o mais comum, é o que chamo de “homofóbico replay”.  É o partidário dos espertos. Embora o grau de periculosidade deste grupo seja menor que o daqueles que seguem, todo cuidado é pouco. Dar-lhes atenção pode lhe custar uma infortuna dor de cabeça por alguns dias. São os responsáveis por expandir a idiotia pregada pelos seus líderes. Não são de inventar novos argumentos, apenas tratam de espalhar aqueles que já foram plantados na sua cabecinha de miolo mole. Quase sempre decoram as babaquices dos seus guias e na oportunidade certa vomitam tudo... O “homofóbico replay” é antes de tudo um alienado, um completo papagaio bufão que não se incomoda de ter que repetir mil vezes que seja a perversa ladainha dos seus chefes espirituais.
Por fim, tem-se a figura do “homofóbico piadista”. Este jura de pés juntos que não é homofóbico. É aquele que gosta de dizer: ah, eu tenho até amigos... O “piadista” geralmente não é religioso. Também não faz questão de pregar valores morais a ninguém. Contudo (e tinha que ter um “contudo”), é aquele que não perde a oportunidade de fazer uma gracinha com a sexualidade alheia. Debocha e fere, mesmo que não seja intencionalmente. Para ele, é prazeroso zombar do gay, da lésbica, da travesti... e ele o faz sempre que pode. Trata-se de uma espécie preconceituosa tão presente no cotidiano das pessoas que rivaliza com o “homofóbico replay” em número de adeptos. Dono de uma insegurança amazônica, este tipo adora (A-DO-RA) jactar de sua heterossexualidade. Faz questão de propagandeá-la aos quatro cantos. Embora possa parecer inofensivo, o “homofóbico piadista”, ao reforçar estereótipos e negativar (mesmo que as vezes sem perceber) o comportamento homossexual, pode ser tão perturbador quanto o “homofóbico canalha”. Lembram do “Dourado”do BBB 10?! Pois é...
Vale dizer que os três grupos aqui descritos, cujas variações podem ser as mais infinitas possíveis, são apenas a ponta do iceberg. Ou seja, são aqueles que encarnam com mais fervor o sentimento infeliz a qual se prestam disseminar, sendo por isso mais fáceis de serem identificados. Entretanto, há centenas de outras espécies preconceituosas rondando por aí. Inclusive, é importante destacar que um homofóbico de uma classe pode pertencer a outra (s) perfeitamente. Isto é, nesse zoológico as feras podem amontoar-se em uma ou mais jaulas sem problemas. Problema mesmo tem os homossexuais vítimas do preconceito homicida. Segundo o GGB (Grupo Gay da Bahia), desde 1980, o Brasil já teve mais de 3000 assassinatos homofóbicos. A maioria deles com requintes de crueldade.
Algo me diz que no lugar de jaulas, celas seriam mais apropriadas para as espécies aqui catalogadas.

P.S.: a imagem que ilustra este artigo é do menino Alexandre Ivo, de 14 anos, que foi sequestrado, espancado, torturado e asfixiado até a morte por um grupo de jovens no dia 21 de junho em São Gonçalo-RJ. O motivo da barbaridade: Ivo era homossexual. A homofobia o matou.  

Daniel Lélis

domingo, 11 de julho de 2010

'No palco da vida, o seu encontro com você' (por Daniel Lélis)

Lá fora o vento cinza convida as folhas a dançarem. A noite nublada esconde estrelas sonolentas. O luar é tímido e as ruas silenciosas. Chegou a hora. Você não esperava por aquele momento, mas sabia que ele era inevitável. Quem nunca se deixou seduzir pela aventura arriscada de entender como funciona o teatro da vida? É chegado o momento de você dialogar com verdades indiscretas. A peça vai começar; onde estão as fantasias? Chegou a hora de tirá-las. De repente, milhares de perguntas surgem. Para respondê-las, as máscaras precisam cair. Antes disso, um adeus. O fim então que estava próximo, está aqui. É o fim da inocência. Você se despede. E de repente, no horizonte, um moinho gigante se forma, e vai moendo, uma a uma, muitas de suas ingênuas convicções. Aos poucos a dor de conhecer o mundo te contamina e te leva para longe de si mesmo. Longe, você descobre que nunca esteve tão perto de si.  
            De repente, as cortinas se abrem. O mundo sem máscaras se apresenta no palco. Mas espera aí, onde estão os personagens desse enredo? Só então você descobre que quem está no palco é você. A plateia inconveniente te assiste. Você caminha pelo palco. Não sabe para onde vai. Mas sente que tem força para não cair. Um sorriso feliz é desenhado em sua face. Nunca foi tão gratificante estar em apuros, você pensa. Seus olhos estão cerrados. Abrindo-os, você percebe que precisa se equilibrar. Há uma tonelada de verdades espalhadas pelo chão. Vê-las te perturba, mas te consola. Um ventinho úmido faz balançar seus cabelos. A plateia permanece calada. Despido de medos, você consegue uma carona rumo a si mesmo. As verdades então começam a te engolir. As cenas seguintes são vergonhosas. As luzes de todo o teatro se acendem e revelam toda a realidade. Por todos os cantos, figura a indecência de tortuosas verdades. A plateia parece surpresa. Seus olhos parecem cansados, mas você enxerga algumas delas. Eis: Ninguém precisa ser bom o suficiente para ter sucesso. Sorte e dinheiro às vezes são ingredientes mais que suficientes; não interessa o quanto você se esforce, alguém sempre irá desconfiar de você; diga o que disser, mas beleza importa sim e muitas vezes é decisiva; por mais que queiramos que seja diferente, para muitos os valores mais importantes são os da conta bancária; acusar o outro é, antes de tudo, defender-se, honrar o altar que você mesmo criou. Rabiscado na sua consciência uma última constatação: o mundo é grande demais para os pequenos.
            Você está de pé. Parece vigiar a si mesmo. A plateia suspira ansiosa a espera de um novo ato. Sua aventura pelos palcos, meu chapa, pelo visto ainda não terminou. Conhecer a si próprio entendendo o mundo ao seu redor exige muito mais do que apenas avistar a indecência de certas verdades. É chegada a hora do último ato desta noite. Espera aí, parece que há uma porta num dos cantos do imenso palco. Você tem a impressão de que algo está a batê-la. E realmente está. A redenção faz então a sua visita surpresa. Seus olhos à convida a entrar. É agora. A inocência já em frangalhos então é atropelada de vez. Grandes e incontestáveis valores são jogados para sempre no porão das irrelevâncias. Só então você consegue ver. Está lá. A redenção com elegância te apresentou o esconderijo que você tanto procurava. Você encontrou a saída. A saída é se render e refugiar-se com os sobreviventes, nem que para isso não reste mais nada de você. É o que você faz. As cortinas calmamente se fecham. Lá fora a plateia que nunca dorme sente pena de você, mas parece contente por ver derrubadas todas as máscaras.




Daniel Lélis


Conto publicado originalmente na Revista Jfashion.

terça-feira, 6 de julho de 2010

TOCANTINÓPOLIS, SEGUNDA CIDADE A REALIZAR PARADA LGBT EM TOCANTINS, VIRA EXEMPLO PARA GRANDES

É, amigos, era para ser Araguaina, mas a segunda cidade de Tocantins a realizar uma Parada LGBT será Tocantinópolis, município localizado na região tocantinense conhecida como Bico do Papagaio. O evento será no dia 25 de julho e tem o apoio do GIAMA (de Palmas), de Prefeituras, como a de Tocantinópolis e Aguiarnópolis, e de empresas regionais.
Parabéns aos organizadores ("Classe GLBT de Tocantinópolis")!
Araguaina fica para trás, mas o Tocantins dá um passo grande para frente.


Daniel Lélis