Dói no fundo do peito. Machuca a alma. Às vezes quando dá as caras é difícil segurar as lágrimas. É a saudade, esse irresistível sentimento universal que quando experimentado garante as mais intensas emoções. Quem não sente saudades (se é que há alguém) está livre da dor que ela proporciona, mas também precisa se conformar com a inexistência das certezas que só ela é capaz de oferecer.
Mas o que é saudade? Defini-la com palavras é injusto, uma vez que a sua dimensão contraria o senso comum e abarca uma infinidade de situações. Contudo, o façamos com a única intenção de clarear o assunto que aqui será explorado. Saudade é, acima de tudo, lembrança. Lembrança das pessoas que passaram pela nossa vida ou das coisas que o tempo tornou ausentes. Saudade é a falta, a carência de algo ou alguém que de alguma maneira é/foi importante. O fato é que não sentimos saudades daquilo que nos desagrada.
Sentimos saudades da infância. Da ingenuidade que outrora falava por nós. Da proteção e do socorro imediato dos nossos pais, sempre por perto. Da alegria pura e inocente que um simples presente nos causava. Do sorriso sincero que qualquer piada boba era capaz de arrancar. Da época em que a nossa maior preocupação se resumia no prato quebrado que a mamãe ainda não descobrira. Faz falta as brincadeiras no fundo do quintal. As tarefas de casa para fazer. A satisfação de apresentar uma pirueta nova. A doçura quase poética de cada descoberta.
Sentimos saudades de quem já se foi. De quem deu adeus e nunca mais voltará. Daquele parente querido que sucumbiu a uma doença grave. Daquele amigo amável que perdeu a vida num grave acidente. Sentimos falta de quem não se foi, mas que não está mais aqui, do nosso lado. Daqueles que foram para longe e que raramente voltamos a ver. Daqueles que o destino, implacável e insensível como a mãe natureza, levou para distante de nós.
Não se pode negar que a saudade e a angústia costumam andar de mãos dadas. A saudade é amarga; é como uma música dolorosa, cantada com tristeza pelo coração. A despeito disso, a verdade é que as lembranças são o nosso maior patrimônio e a saudade existe para mostrar quais destas recordações são boas e merecem um capítulo especial em nossa história.
Daniel Lélis
Artigo publicado originalmente na JFASHION (@revistajfashion).