Uma hora ou outra...
... descobrimos que muitas vezes os melhores caminhos são aqueles que detestamos buscar e que caminhar em direção ao mundo pode nos trazer de volta para a casa. Descobrimos que o óbvio pode não ser encantador, mas é ele que nos dá segurança. E não importa o quanto tentamos negar: chega uma hora que percebemos que é preciso ir longe para ter certeza o quão bom está perto daqueles que amamos. Descobrimos que as melhores escolhas são as mais difíceis de fazer; e as fáceis as que mais nos trarão arrependimento. Descobrimos que quem brilha muito, ofusca as próprias perspectivas; que é na aflição que podemos encontrar cambaleando muito de nossa força. Aprendemos que ser bom ou não é mais uma questão de interpretação que de valores; que por trás de cada decisão há um interesse que nem sempre será esclarecido. Descobrimos que quanto mais sonhamos em alcançar o topo, mais nos seduzimos pelo perigo. Aprendemos, entretanto, que é sonhando que podemos vislumbrar os nossos mais temidos pesadelos. E nem precisamos estar dormindo para tanto.
Aprendemos que as joias mais caras não nascem em ostras, mas repousam no coração na forma dos mais nobres sentimentos. Descobrimos, todavia, que a fome por poder torna a nobreza um acessório fora de moda. Aprendemos, porém, que num mundo tomado pela falsidade, em que as aparências falam mais alto, vale a pena ter um amigo. Descobrimos que a maior dor não é aquela que sentimos, mas aquela que esperamos sentir; e que as maiores fortalezas são aquelas que já foram derrubadas. Aprendemos que o forte numa batalha não é quem vence, mas quem não se permite desistir. Descobrimos que para muitos vale tudo para ganhar uma guerra, inclusive abandonar a si mesmo. Aprendemos que o guerreiro sábio, contudo, nem sempre é o mais amado, mas é o que mais atrai admiração. Descobrimos que a vitória pode entorpecer o vencedor e só a derrota pode abrir-lhe os olhos. Aprendemos, todavia, que é preciso fechar os olhos para ver o que diz o coração.
Descobrimos que a pessoa que grita felicidade aos quatro cantos, na verdade, procurar convencer a si mesmo que é feliz. Aprendemos que o orgulho fere, mas pode ser a única saída. Descobrimos que um mar de dúvidas pode nos contaminar, mas a maior poluição será fabricada pelas nossas certezas. Aprendemos com o 'ontem' a lidar com o 'hoje', e com o 'hoje' a entender o 'amanhã'. O futuro, contudo, continua sendo a melhor desculpa. Aprendemos que o destino traz muitas respostas, mas que nem é ele é capaz de fazer todos os milagres. Descobrimos que amar é perigoso, mas é o risco que precisamos correr. Aprendemos que o amor, mesmo quando nos engana, traz serenidade e alivia. Descobrimos, no entanto, que nem todos os laços podem perdurar. E mesmo os mais firmes não resistem a um nó cego do tempo. Aprendemos que fugir é um remédio covarde, mas às vezes necessário. Descobrimos que somos o que aprendemos e que o nosso maior patrimônio é a nossa história, mesmo que inevitavelmente não nos orgulhemos de tudo.
Daniel Lélis
Texto publicado originalmente na JFASHION.