terça-feira, 8 de dezembro de 2009
'Amor e amar' (por Daniel Lélis)
Tempos cruéis estes em que se relega o amor aos porões imundos das irrelevâncias. Que se retira do ato de amar todo sentido que lhe faz belo e indispensável. Pois bem, eis-me aqui, na contramão disso, a lembrar-vos da importância das duas palavras escolhidas para intitular este texto. Para tanto, resolvi defini-las. Vejamos:
O que é o amor?
O amor é...
A língua que não precisa de tradução.
A força de quem não desiste de lutar, mesmo quando tudo parece estar perdido.
A coragem de quem arrisca por acreditar em dias melhores.
O encontro das noites frias com a saudade que machuca.
A palavra amiga que consola e liberta.
O aperto de mãos firme que traz segurança nos momentos de incerteza.
A companhia desejada para as horas indesejadas.
O abraço caloroso nos dias nublados.
A solidariedade de quem se importa em ajudar quem precisa.
O sorriso ingênuo que enobrece, fascina e enche de esperança.
A lealdade valente daqueles que ousam em confiar.
São os olhos que brilham, o coração que acelera e o fôlego que nos mantém de pé.
Por fim, o amor é a razão inquestionável do nosso existir.
O que é amar?
Amar é...
Fazer e querer o bem aquele que você nem conhece.
Ser melhor que você mesmo.
Poder compreender e respeitar as diferenças.
Vencer o próprio orgulho sem perder a dignidade.
Encarar os desafios sabendo até onde podemos chegar.
Crer nos sonhos, mas ter em mente que para realizá-los, é preciso acordar.
Poder fazer o impossível acontecer.
Saber perdoar o “outro” tendo em vista que no futuro o “outro” pode ser você.
Driblar os medos e suportar as dores do jogo da vida.
Por fim, amar é viver a beleza do hoje, reconhecer a fraqueza de ontem e valorizar o que poderemos ser amanhã.
Às definições aqui apresentadas, somar-se-iam tantas outras que levaria a eternidade para descrevê-las. E não poderia ser diferente: ao que acredita no amor, sempre serão infinitas as formas de amar.
Você também encontra este texto na Jfashion, a revista de sociedade mais badalada de Tocantins.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
'Legislando em causa própria' (por Daniel Lélis)
A argumentação homofóbica (de quem tem preconceito contra homossexuais) nunca foi muito criativa, muito embora seja impregnada de ousadia e desonestidade intelectual. Certa vez fizemos um curso de capacitação para policiais militares tocantinenses, cujo tema era: Direitos Humanos e Homofobia. O evento histórico para a militância LGBT (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) do estado trouxe diversas palestras. Uma delas, com o advogado do grupo GIAMA - Grupo Ipê-Amarelo de Luta pela Livre Orientação Sexual, pioneiro no estado na luta pelos direitos humanos homossexuais. No final do evento foi dado espaço para perguntas e observações. Uma das perguntas foi justamente feita ao advogado. Inquiriu um dos policiais presentes: - O senhor por um acaso está legislando em causa própria? Pasmem, o policial, na falta de qualquer argumentação razoável, preferiu "atacar" pessoalmente o advogado, "acusando-o" deste "pecado" que é a homossexualidade. Preferiu expor a ideia de que só homossexuais defendem homossexuais. Tolice pura. O advogado respondeu a altura, dizendo que sua vida pessoal era o que menos importava, já que ele estava ali para formar mentes (ou abri-las, como preferirem) no que diz respeito a um tratamento digno a homossexuais, não para falar de suas predileções particulares, e que aquilo é dever de todos. Certíssimo. O argumento do policial é usado habitualmente por homofóbicos (quem o diga Silas Malafaia e Magno Malta!). Já vi e ouvi milhares de vezes. Mas daí eu pergunto: -e se for? E se tivermos mesmo legislando em causa própria? Não é um direito que nos assiste? Não é a forma que temos para manifestar nossas aspirações enquanto grupo social rotineiramente relegado a marginalidade? Policias legislam em causa própria quando defendem salários maiores. Pastores legislam em causa própria quando usam o microfone do Congresso Nacional para acusar homossexuais de pedófilos. E aí? Somos tão piores que não nos é dado este mínimo direito de ir atrás de novas conquistas? Se nao podemos casar, adotar e nem sequer doar sangue, cabe a quem preferencialmente (e não exclusivamente, esclareça-se) exigir que isso mude? A nós, ora, os mais interessados. E fazemos isso como? Legislando em nossa causa própria!
***
Falando nisso, está no Senado Federal projeto de lei que pretende tornar crime no Brasil a homofobia, assim como já acontece com o racismo. Trata-se do PLC 122/2006, que têm como maiores objetivos o reconhecimento da liberdade, a defesa intransigente dos direitos humanos e o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito. Os fundamentalistas religiosos, na maioria protestantes, têm anunciado o apocalipse caso o projeto seja aprovado. Ou seja, os bastiões da ética e da moralidade cristã são contrários a um projeto, que como afirmou brilhantemente André Petry, em um de seus artigos em Veja, “pretende dar aos gays (...) aquilo a que todo ser humano tem direito: respeito à sua integridade física e moral.” Como entender isso?!
Texto meu, reformulado, atualizado e publicado no Jornal Atualidade.
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