sexta-feira, 16 de abril de 2010

'Retrato da (minha) vida real' (por Daniel Lélis)




E de repente...



... percebeu-se que a esperança, mesmo cambaleando, estava viva. Uma pontinha de felicidade, então, voltou a habitar o íntimo atordoado. A sombra que se apoderava dos pensamentos parecia então aos poucos se dissipar. O fim cinza, que parecia já estar escrito, aventurou-se em desaparecer. A felicidade, tão esquecida naqueles dias, enfim, voltou a se traduzir num sorriso sincero.
E se amar é vencer o mundo, por que não vencer o próprio orgulho? Perdoar é para os grandes amores, para as grandes histórias. O perdão é, e não me canso de dizer, a expressão máxima do amor. Perdoar é renovar; é recomeçar. E só o amor que é amor permite o recomeço. Quem perdoa abandona a mágoa pelo caminho e livra-se do peso amargo das lágrimas. Depois do perdão o mundo volta a sorrir. Os olhos voltam a enxergar o futuro que os sonhos tratavam de desenhar antes da crise. A doçura dos bons momentos, os desafios da vida construída a dois, tudo volta a fazer parte daquele vazio que atormentou por dias sombrios o coração que, sem alternativas, pensou que tudo tivesse acabado.
O amor tem mesmo essa força: ao mesmo tempo em que leva os amantes ao erro, dá a eles a oportunidade de se redimir... De traçar uma nova rota. De querer dar um novo sentido àquilo que sempre teve sentido. De querer fortalecer, enriquecer, resgatar o que há de melhor no elo parecia perdido, mas que sempre foi a razão de tudo.
Um amor NUNCA deixa de ser amor. Ele pode até ser contado com menos entusiasmo, mas no fundo, eis que é impossível abrir mão de senti-lo, reverenciá-lo, ouvi-lo. O amor fala aos ouvidos de quem ama mesmo quando quem ama finge não amar mais... O amor grita sua existência, e só o teimoso, ou o desiludido, se convida a não batalhar por aquilo que dele ouve.
Somente quem acredita no amor pode superar os maiores medos, as maiores dores, as maiores controvérsias. Apenas aquele que realmente ama pode fazer do amor a sua maior força, o seu maior poder. Ao amante errante cabe ir atrás, reconhecer a falha e pedir desculpas. Ao outro é obrigação, no tempo certo, de pisar na própria soberba. Deste encontro, surge a convicção de que deve-se começar de novo. Não do início, mas sim de onde parou. A página em que a dúvida, o medo e a precipitação se fizeram presentes, logo será rabiscada. Folhas em branco então surgirão. E de repente, com lapiseiras invisíveis, a história que nunca deixou de ser contada, voltará a se escrita.



Daniel Lélis