A ideia que o brasileiro tem da política não poderia ser pior: “Todo político é ladrão!”. Não adianta negar, nem fechar os olhos. É fato. A visão é injusta por ser genérica, mas arrazoada e compreensível por ter amplo amparo na realidade. Ora, qual é a semana que não surge um novo escândalo político por aqui? É tão nebulosa a imagem que o brasileiro tem dos seus representantes que a palavra “corrupção” parece ter virado sinônimo de “política”. Falar desta sem mencionar aquela é evento raro. É uma pena.
É doloroso constatar que uma instituição tão antiga como a política, incumbida da valiosa missão de garantir a felicidade coletiva, tenha tomado para si um sentido tão banal, sujo e impopular. É claro que político e política não são a mesma coisa. Mas como desvincular um do outro? Ora, o político faz a política! É claro também que política não é o mesmo que politicagem. Mas como negar que esta é consequência daquela? Como separar uma da outra quando parece que uma é a outra?
No Brasil temos de tudo. Do assistencialismo disfarçado ao coronelismo pré-histórico. Do populismo mórbido ao nepotismo asqueroso. Dos acordos partidários onde valem tudo às políticas sociais que valem nada. Da desonestidade plena à canalhice despudorada. Do fisiologismo debochado a indecência de dólares na cueca. Até para o mais otimista virar esse jogo pode parecer impossível.
Desanima saber que dificilmente algum dia a imagem que se tem da política e dos políticos brasileiros irá mudar. Não há como ver diferente o que sempre se desenha igual. Somos acometidos diariamente de mais e mais denúncias contra os nossos governantes. Tanto é, que nem nos assustamos mais. A bandidagem política faz parte da paisagem assim como as estrelas do céu. Tem bandido para todos os gostos. Tem o bandido vampiro, o sanguessuga, o mensaleiro, o quadrilheiro, o bingueiro, o mafioso e tantos outros que levariam a eternidade para descrever. Em comum, o fato de raramente serem punidos. Aliás, a impunidade é o que nos diferencia das nações mais desenvolvidas. Quem disse que lá não tem ratos no poder? É claro que tem. Contudo, diferente daqui, lá eles são punidos e muitas vezes banidos para sempre da esfera política. Aqui, punição é exceção.
Não é a toa que seja difícil conter o entusiasmo quando surge um pequeno feixe de luz no fim desse túnel enlameado que é a política brasileira. Sonha-se. Vibra-se. É o que acontece quando vemos ser afastados do poder aqueles que fazem de tudo para depreciar ainda mais o já pútrido sistema representativo. Já foram três os líderes estaduais a perder o mandato este ano por conta de crimes eleitorais. Fato inédito e que deve ser comemorado. Marcelo Miranda foi o último deles. Mais dois ainda serão julgados pelo TSE. Será o fim da impunidade; desse vergonhoso convite ao crime? Não, infelizmente não podemos sonhar com isso ainda. Mas quem sabe não seja o fim dessa moléstia. O sinal de que ainda dá tempo. De que ainda tem jeito. De que ainda podemos acreditar.
Quem sabe algum dia (que espera-se não ser o de “São Nunca”, claro!), depois de amplas reformas, com a superação do conformismo e da incredulidade que de nós se apodera, com a maior conscientização política do nosso povo, com a certeza da punição aos bandidos do colarinho branco, poderemos nos orgulhar de dizer ao mundo que viramos o jogo?! Assim, não duvidaremos de mais nada. O impossível já não existirá!
Texto publicado originalmente no Jornal O ATUALIDADE.