Com pouco mais de meio século de existência e com uma população em torno de 114 mil habitantes, Araguaina (agora sem acento depois da reforma ortográfica), a segunda maior cidade do estado de Tocantins, é a expressão plena de uma contradição brasileira. Muito foi feito para que ela fosse escolhida como capital do estado. Não teve êxito. Contudo, acabou por herdar o título de Capital Econômica. Nada mais justo. Movida principalmente pelo setor agropecuário, mas com expansão de outros setores, Araguaina de fato ostenta a maior economia do Estado. Temos grandes empresas e faculdades que se expandem cada vez mais. Temos profissionais com reconhecido talento a nos representar. E por fim, temos um povo aguerrido que trava verdadeiras batalhas diárias em busca de um futuro melhor. Essa é a cidade rica.
Por que então seríamos uma cidade pobre? A realidade responde. O que você diria de uma cidade que tem por semanas a sede de sua prefeitura invadida por moradores locais em protesto? Redes de dormir por todos os lados. Uma lona velha em volta de um poste a servir de banheiro. Roupas estendidas pelo jardim. Esse era o cenário da sede do poder executivo municipal durante semanas. Longe de querer discutir o mérito da questão, é no mínimo constrangedor para qualquer governante ter o seu ambiente de trabalho invadido assim. Aliás, trata-se de um constrangimento não só político, mas público, uma vez que a Prefeitura é de todos nós. Uma cidade rica comportaria tal situação?
Falar de buracos por aqui é redundante. Vem governo e vai governo, e eles continuam lá. Alguns de tão largos e extensos parecem verdadeiras crateras. Quem nunca ouviu falar de Buracaína, o apelido nada carinhoso dado a cidade em razão destes detalhes tão indiscretos? É rica uma cidade afundada em buracos?
E o que dizer então do transporte público araguainense? Dentre todas as empresas que por aqui atuam, nenhuma delas é tão odiada como a Viação Lontra. Pergunte a qualquer um que precise dos seus serviços. Nada é pior. E ninguém é melhor para falar isso que eu, um usuário. Não foi uma nem duas vezes apenas que tive de esperar por mais de 1 hora um coletivo debaixo de um sol escaldante. Quando o ônibus chega, ou está lotado ou está caindo os pedaços. Ou as duas coisas. Isso sem falar da má educação e arrogância dos motoristas. Que é aquilo? Certa vez, numa das minhas angustiosas aventuras dentro de um coletivo, presenciei o motorista chamar uma moça de retardada. E tudo por uma bobagem. Foi tamanha a indelicadeza do funcionário da empresa que mesmo depois de a mesma ter descido, ele continuava a xingá-la. A tarifa aumentou. Por que será que a qualidade não aumenta? Aliás, e os terminais que construíram? Dia desses passei por um deles e vi que antes de mesmo de ser inaugurado já haviam lâmpadas destruídas. Sem falar que o lugar parece ter se tornado um banheiro público, tamanha a quantidade de fezes ali espalhadas. Estamos numa cidade rica?
Os problemas araguainenses não são diferentes dos de outras cidades do Brasil. Apontá-los e denunciá-los é um dever de todos nós. Às mazelas aqui descritas somam-se muitas outras como a precariedade da saúde e a falta de ambientes de lazer. É claro que não existe um só culpado nem uma só solução. Entretanto, se não discutirmos a fim de encontrar uma saída para cada um deles, se não cobrarmos dos agentes políticos maior empenho nesse propósito, acabaremos por fazer do conformismo a nossa maior bandeira. Ficaremos para trás. Seremos a pobre cidade pobre.
Texto publicado originalmente no Jornal O ATUALIDADE.