sábado, 11 de junho de 2011

Lições e descobertas


Uma hora ou outra...

... descobrimos que muitas vezes os melhores caminhos são aqueles que detestamos buscar e que caminhar em direção ao mundo pode nos trazer de volta para a casa. Descobrimos que o óbvio pode não ser encantador, mas é ele que nos dá segurança. E não importa o quanto tentamos negar: chega uma hora que percebemos que é preciso ir longe para ter certeza o quão bom está perto daqueles que amamos. Descobrimos que as melhores escolhas são as mais difíceis de fazer; e as fáceis as que mais nos trarão arrependimento. Descobrimos que quem brilha muito, ofusca as próprias perspectivas; que é na aflição que podemos encontrar cambaleando muito de nossa força. Aprendemos que ser bom ou não é mais uma questão de interpretação que de valores; que por trás de cada decisão há um interesse que nem sempre será esclarecido. Descobrimos que quanto mais sonhamos em alcançar o topo, mais nos seduzimos pelo perigo. Aprendemos, entretanto, que é sonhando que podemos vislumbrar os nossos mais temidos pesadelos. E nem precisamos estar dormindo para tanto.
Aprendemos que as joias mais caras não nascem em ostras, mas repousam no coração na forma dos mais nobres sentimentos. Descobrimos, todavia, que a fome por poder torna a nobreza um acessório fora de moda. Aprendemos, porém, que num mundo tomado pela falsidade, em que as aparências falam mais alto, vale a pena ter um amigo. Descobrimos que a maior dor não é aquela que sentimos, mas aquela que esperamos sentir; e que as maiores fortalezas são aquelas que já foram derrubadas. Aprendemos que o forte numa batalha não é quem vence, mas quem não se permite desistir. Descobrimos que para muitos vale tudo para ganhar uma guerra, inclusive abandonar a si mesmo. Aprendemos que o guerreiro sábio, contudo, nem sempre é o mais amado, mas é o que mais atrai admiração. Descobrimos que a vitória pode entorpecer o vencedor e só a derrota pode abrir-lhe os olhos. Aprendemos, todavia, que é preciso fechar os olhos para ver o que diz o coração.
Descobrimos que a pessoa que grita felicidade aos quatro cantos, na verdade, procurar convencer a si mesmo que é feliz. Aprendemos que o orgulho fere, mas pode ser a única saída. Descobrimos que um mar de dúvidas pode nos contaminar, mas a maior poluição será fabricada pelas nossas certezas. Aprendemos com o 'ontem' a lidar com o 'hoje', e com o 'hoje' a entender o 'amanhã'. O futuro, contudo, continua sendo a melhor desculpa. Aprendemos que o destino traz muitas respostas, mas que nem é ele é capaz de fazer todos os milagres. Descobrimos que amar é perigoso, mas é o risco que precisamos correr. Aprendemos que o amor, mesmo quando nos engana, traz serenidade e alivia. Descobrimos, no entanto, que nem todos os laços podem perdurar. E mesmo os mais firmes não resistem a um nó cego do tempo. Aprendemos que fugir é um remédio covarde, mas às vezes necessário. Descobrimos que somos o que aprendemos e que o nosso maior patrimônio é a nossa história, mesmo que inevitavelmente não nos orgulhemos de tudo.


Daniel Lélis

Texto publicado originalmente na JFASHION.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

DAS SAUDADES QUE SENTIMOS




Dói no fundo do peito. Machuca a alma. Às vezes quando dá as caras é difícil segurar as lágrimas. É a saudade, esse irresistível sentimento universal que quando experimentado garante as mais intensas emoções. Quem não sente saudades (se é que há alguém) está livre da dor que ela proporciona, mas também precisa se conformar com a inexistência das certezas que só ela é capaz de oferecer.

Mas o que é saudade? Defini-la com palavras é injusto, uma vez que a sua dimensão contraria o senso comum e abarca uma infinidade de situações. Contudo, o façamos com a única intenção de clarear o assunto que aqui será explorado. Saudade é, acima de tudo, lembrança. Lembrança das pessoas que passaram pela nossa vida ou das coisas que o tempo tornou ausentes. Saudade é a falta, a carência de algo ou alguém que de alguma maneira é/foi importante. O fato é que não sentimos saudades daquilo que nos desagrada.

Sentimos saudades da infância. Da ingenuidade que outrora falava por nós. Da proteção e do socorro imediato dos nossos pais, sempre por perto. Da alegria pura e inocente que um simples presente nos causava. Do sorriso sincero que qualquer piada boba era capaz de arrancar. Da época em que a nossa maior preocupação se resumia no prato quebrado que a mamãe ainda não descobrira. Faz falta as brincadeiras no fundo do quintal. As tarefas de casa para fazer. A satisfação de apresentar uma pirueta nova. A doçura quase poética de cada descoberta.

Sentimos saudades de quem já se foi. De quem deu adeus e nunca mais voltará. Daquele parente querido que sucumbiu a uma doença grave. Daquele amigo amável que perdeu a vida num grave acidente. Sentimos falta de quem não se foi, mas que não está mais aqui, do nosso lado. Daqueles que foram para longe e que raramente voltamos a ver. Daqueles que o destino, implacável e insensível como a mãe natureza, levou para distante de nós.  

Não se pode negar que a saudade e a angústia costumam andar de mãos dadas. A saudade é amarga; é como uma música dolorosa, cantada com tristeza pelo coração. A despeito disso, a verdade é que as lembranças são o nosso maior patrimônio e a saudade existe para mostrar quais destas recordações são boas e merecem um capítulo especial em nossa história.


Daniel Lélis


Artigo publicado originalmente na JFASHION (@revistajfashion).

segunda-feira, 21 de março de 2011

Contos de fadas não foram feitos para nós



Construir um relacionamento, seja ele amoroso, profissional ou de afeto, nem sempre é fácil, uma vez que pode, dependendo das circunstâncias, exigir muita disposição, paciência e tolerância. Quando se trata de edificar uma vida a dois, então, há mil e um desafios. Tratemos deles.
Todo mundo sonha com o dia em que vai encontrar sua alma gêmea, sua cara metade. Mesmo nos dias de hoje, em que a individualidade congrega multidões, a necessidade de ter alguém resiste e continua insubstituível. A tarefa de encontrar um (a) parceiro (a) ideal para um compromisso, todavia, parece que nunca foi tão complicada. A razão, creio eu, é simples: quando mais idealizamos a pessoa com quem gostaríamos de estar juntos, menos chances temos de encontrá-la. Em outras palavras, quando fantasiamos demais o outro, na busca pela satisfação de nossas expectativas, corremos o sério risco de nos decepcionar e sermos castigados pela solidão.
Quem busca um relacionamento ‘perfeito’, esquece que todos nós somos imperfeitos. Somos humanos, por isso errantes, falíveis e cheios de defeitos. Portanto, o mais coerente para quem deseja achar a sua metade da laranja, é ter consciência de que nem sempre ela será doce. Aceitar e superar a ideia de que príncipes encantados (ou princesas, se for o caso) foram feitos só para os contos de fadas é um passo importantíssimo. É fundamental não esperar demais do outro; ter em vista que como você, ele (a) também tem limitações; valorize-lhe as virtudes e qualidades, importe-se em fazer dar certo. Feito isso, a verdade é que mais cedo ou mais tarde, aparecerá alguém interessante. Revestido da cautela necessária, por que não acreditar?! Como afirmou o genial Mário Quintana em um dos seus escritos, “No final das contas, você vai achar, não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!”
Pois bem. Mais difícil do que ter um relacionamento, contudo, é manter um. Não existe segredo, já vou dizendo. Cada casal cria as suas próprias regras. O que há em comum em todas as relações que dão certo, importante mencionar, é o fato de que elas souberam se reinventar, sobreviver às dificuldades, vencer os desafios. Para tanto, é preciso que haja companheirismo, respeito, dedicação e lealdade. É preciso, sobretudo, de amor. Amor de verdade. Aquele que acalenta a alma, conforta e sossega o coração. Aquele que vê o tempo passar, mas nunca envelhece. Aquele que enche de orgulho e saudades. Aquele feito para a vida toda.

Daniel Lélis


Artigo publicado originalmente na JFASHION (@revistajfashion).

PARA QUEM NÃO VIU: o final de Thales e Julinho em 'Ti Ti Ti'

sexta-feira, 18 de março de 2011

INTOLERÂNCIA: música de Lady Gaga é censurada por apoiar homossexualidade




















A nova música de Lady Gaga, "Born This Way", foi censurada na Malásia por promover a aceitação de homossexuais, informa a agência Associated Press.


No país de maioria muçulmana, parte da música foi cortada para poder ser executada nas rádios. A censura visa prevenir reações do governo, que proíbe músicas com conteúdo que violem o "bom gosto, a decência ou ofendam os sentimentos da população".

No trecho censurado, Gaga fala sobre aceitar uma pessoa não importa se ela seja "gay, hétero, bi, lésbica, transexual". "Essas letras podem ser consideradas ofensivas do ponto de vista dos costumes sociais e religiosos da Malásia", defendeu a rede de rádio AMP.

Estações de rádio que descumprirem a lei podem ser punidas com multa de até R$ 26 mil.

As informações, todas elas, são da FOLHA DE SÃO PAULO.

COMENTÁRIO:

Lady Gaga é a maior diva gay da atualidade. Ninguém empreende mais esforços pela causa gay que ela. E a música 'Born This Way' ("Nasci assim") é, sem sombra de dúvidas, um convite colorido, generoso e divertido para a aceitação da diversidade sexual. A censura na Malásia de parte da música é um grave atentado à liberdade de expressão artística e evidencia o desrespeito aos homossexuais no país. Espera-se que Gaga faça um pronunciamento a respeito. 

Daniel Lélis

África do Sul vence Mr. Gay Mundo. Mr. Gay Brasil volta de mãos vazias


François Nel, 28, da África do Sul, venceu neste fim de semana o concurso Mr. Gay Mundo, realizado em um hotel no subúrbio de Manila, capital das Filipinas. EUA levaram o segundo lugar e a Espanha ficou em terceiro. O brasileiro Eduardo Kamke, de Santa Catarina, apesar de classificado entre os oito finalistas, não ganhou nenhuma das faixas distribuídas durante o evento.

Charl Van Der Berg, de 28 anos, Mr. gay 2010, foi quem passou o título para o novo gay eleito o mais bonito do mundo. François é cabeleireiro, maquiador e possui o seu próprio salão. Além do bicampeonato, a África do Sul foi eleita pela a organização do evento como próxima sede do concurso, que já tem data marcada: entre 4 e 8 de abril de 2012, em Johanesburgo.

O Mr. Filipinas ganhou a votação on-line e se sagrou o Mr. Popularidade e levou ainda o Mr. Traje Típico. O Mr. Austrália levou duas faixas em títulos concedidos durante o evento, a de Mr. Traje de banho e Mr. Traje de Gala. O Mr. Estônia foi eleito o Mr. Simpatia 2011, eleito entre os participantes. Já a Irlanda levou o título de Mr. Esportes e a Nova Zelândia ficou com o Mr. Fotogenia.

Matéria do site 'Revista Lado A'

terça-feira, 15 de março de 2011

Celebridade: menino asiático bem pintoso é a nova diva do YouTube



Ele é um fofo, concordam?! E além disso, é talentoso e dá uma goleada no bullying.

D.L.

Ti Ti Ti: Thales se declara para Julinho em público, veja a cena




Ah, o amor! *suspiros*
Definitivamente: eles formam o casal gay mais ilustre da história das novelas brasileiras. Aos atores, os meus PARABÉNS! Fantástico!

Daniel Lélis 

segunda-feira, 14 de março de 2011

HORROR NO AMAZONAS: homem gay de 25 anos é torturado, morto e tem olho arrancado no estado


Um homem de 25 anos, agente de saúde do municipio de Anori (a 195 quilômetros de Manaus) com 16 mil habitantes, foi assassinado com 30 facadas e teve um dos olhos arrancados pelos assassinos que o roubaram e o mataram por ser homossexual. Marlon Neves Gomes foi ainda torturado, degolado e há indícios de violência sexual. O corpo foi encontrado em uma quadra de esportes da cidade na tarde do sábado, próximo a sua residência e a polícia já prendeu três suspeitos. Apesar do latrocínio, roubo seguido de morte, a polícia trabalha com a hipótese da orientação sexual do morto ter motivado a ação dos criminosos. Segundo informações passadas para a Lado A, os assassinos conheciam a vítima e foram identificados por uma testemunha.


Os homens suspeitos de terem cometido a barbárie tiveram que ser protegidos pela polícia pois a população queria linchar os três que mataram Marlonzinho, como era conhecida a vítima, querido por trabalhar em um posto de saúde. O terceiro suspeito foi preso em uma cidade vizinha e por questão de segurança não foi levado a Anori, que conta com um reforço de efetivo vindo para acompanhar o caso. A cidade possui apenas quatro PMs em seu efetivo e recebeu mais seis policiais esta semana. O crime chocou a cidade e gays locais se organizaram para pedir maior atenção contra a violência no município na capital, Manaus.



Segundo o cabeleireiro Jaílson Matias Bezerra, a “Charlete”, da Associação de Gays, Lésbicas e Transgêneros do município, é freqüente a homofobia na cidade e o aumento da violência em razão das drogas. Este teria sido o quarto assassinato do ano na cidade. Ele mesmo disse  já ter sido agredido por ser homossexual.

Matéria do site 'Revista Lado A'.

COMENTÁRIO:

A pergunta que fica, depois de mais essa notícia triste é: até quando o preconceito continuará matando, de forma cruel, os homossexuais brasileiros? O que falta para criminalizar esse ódio desumano, injustificado, abjeto, que vitima tantos pelo Brasil afora? A homofobia é uma vergonha nacional. Quantos mais precisarão morrer para que o Estado dê uma resposta?

Daniel Lélis

Site reúne surfistas gays e já conta com 3 mil integrantes


Uma rede de relacionamento voltada para surfistas gays está fazendo sucesso no mundo digital. Trata-se do “Gay Surfers” , espécie de facebook voltado, como se disse, para gays que surfam.


Fundado em fevereiro de 2010, há um ano portanto, pelo surfista francês Thomas C., o site já conta com cerca de três mil usuários, em 80 países. Agora o site pretende organizar campeonatos de surfistas gays _e o Brasil está na mira de seu criador.



Atualmente são 290 surfistas brasileiros cadastrados no site, mas seu criador acredita que esse número aumentará quando o Gay Surfers ganhar sua versão em português.



Link com o conteúdo original, aqui
Matéria do Globo Esporte sobre, aqui

O dia em que Araguaina foi 'parar' no Jornal Nacional




QUEM NÃO SE LEMBRA?! Pena que foi por uma infelicidade que ganhamos destaque no maior telejornal do Brasil. De qualquer maneira, é histórico. Quanto ao caso narrado, todo mundo sabe: alcool e direção são coisas que não combinam. Custa entender?!

Daniel Lélis

Reta final: saiba como terminará o casal Thales e Julinho em Ti Ti Ti




O Mix teve acesso ao resumo do último capítulo da novela Ti Ti Ti, que conta como será o final do casal gay mais festejado da teledramaturgia dos últimos tempos: Julinho (André Arteche) e Tahles (Armando Babaioff). Eles terminam juntos, como previsto, depois de uma série de desentendimentos. Thales acaba assumindo para algumas pessoas que está apaixonado por Julinho, que por sua vez resolve dar tempo ao surfista para que ele saia do armário aos poucos, sem pressão. 


A autora Maria Adelaide Amaral declarou que os personagens Julinho e Thales entrarão para história da teledramaturgia brasileira, ao lado de Jaqueline (Cláudia Raia).



No capítulo final, Thales e Julinho terminam em Saquarema, onde abrem uma loja de surfe, e ganham uma declaração de amor mútua. O beijo gay não foi escrito, como a autora já havia dito, mas a cena dos dois no capítulo final é emocionante, segundo promete a autora e o diretor Jorge Fernando.

Matéria completa, clique aqui

segunda-feira, 7 de março de 2011

FANTÁSTICO: saiba qual o melhor horário para você Twittar

Quer saber qual é o melhor horário para postar seus 140 caracteres no twitter? Simples!

Tweetoclock


Descubra o melhor horário para Twittar no site Tweetoclock. Nele você fica sabendo qual é o melhor dia e horário na semana para publicar suasmensagens no Twitter.

Acesse o TWEETOCLOCK.



Dica do site Criativo de galochas

sábado, 5 de março de 2011

Capa da revista Época aborda o "amor e ódio aos gays"


Como prova de que a homossexualidade e a homofobia são temas em pauta no Brasil atual, chega às bancas nesse final de semana Revista Época que traz em sua capa os dizeres: 'Amor e ódio aos gays'. O semanário trata com prudência, realismo e honestidade a necessidade de se criminalizar a homofobia. 
Com uma bandeira do arco-íris cuja faixa vermelha sangra na capa, a revista coloca: “Amor e ódio aos gays. No carnaval, o Brasil aceita, imita e consagra os homossexuais. Por que, no resto do ano, há tanta violência contra eles?”
A resposta, ou o caminho para chegar até ela, você confere nessa edição corajosa de um dos mais famosos semanários do Brasil.
Daniel Lélis

quarta-feira, 2 de março de 2011

admiração, confiança, consideração: AMIZADE!

Dan, dê o play e leia o texto. Essa postagem é especialmente SUA!


Iaí pessoas (: desculpem minha ausência aqui no palavras, mas é que estava sem saber o que postar por aqui em meio a tantas postagens interessantíssimas feitas pelo @dannlelis. E é sobre ele a minha postagem de hoje; não é dia do amigo, nem aniversário dele, nem qualquer outra data especial, mas acho que é hora de deixar marcada a consideração que eu sinto por esse sujeito. Sabem aquela pessoa que luta admiravelmente pelo seu objetivo?? Pois é, assim é Daniel Lélis, uma pessoa que vive cada dia aproveitando o máximo que pode ser aproveitado. Alguém de uma inteligência única, que consegue produzir textos e frases como ninguém, como vocês podem perceber a cada postagem aqui no blog. Julgado de forma errada por muitas pessoas, em alguns casos alvo de críticas burras, mas que não deixa se abalar. Sensível demais, mas ao mesmo tempo acompanhado de uma força da mesma intensidade da sua sensibilidade. Entrou em minha vida como um simples seguidor no twitter, e hoje é um dos amigos mais sinceros que eu tenho, muito mais sincero que muito amigo que eu conheço a mais de 10 anos. É alguém que tem a preocupação de te ligar pelo menos uma vez na semana para perguntar como você está (e são poucas, muito poucas as pessoas com essa preocupação atualmente). O Dan já sabe muita coisa da minha vida que poucos sabem, já me deu a oportunidade de dar conselhos a ele, conselhos que eu passei de uma forma sincera, de uma forma que uso com poucos. O Daniel é daqueles que eu vou levar comigo sempre, alguém que merece saber de cada detalhe que acontece em minha vida. Dan, saiba que minha admiração por ti é enorme, que você pode contar comigo sempre que precisar. Admiro sua força, sua forma de viver, admiro sua vida. Você é demais, saiba disso!

Divertido: saiba como paquerar um gay em inglês




O Carnaval está aí e, como sempre, milhares de turistas estrangeiros são esperados nos quatro cantos do Brasil. Só no Rio de Janeiro, por exemplo, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis prevê ocupação de 87,5% dos leitos.

Ainda segundo a entidade, os gringos são responsáveis por 67% das reservas feitas nos estabelecimentos fluminenses. É a oportunidade para se jogar naquele delicioso intercâmbio que a gente adora.

Para ajudar você a chegar junto do seu objeto de desejo sem se preocupar com a barreira do idioma, o Mix preparou uma listinha com frases chave para qualquer paquera.

What is your name? (Uat is iór neime?)
Qual seu nome?

Where are you from? (Uér are iú from?)
De onde você é?

Are you a top or a bottom? (Are iú a top or a bótom?)
Você é ativo ou passivo?

I am a top. (Ái em a top)
Sou ativo.

I am a bottom (Ái em a bótom)
Sou passivo.

I am a versatile (Ái em a versatáiou)
Sou versátil.

How big is your dick? (Rau big is iór dique?)
Qual o tamanho do seu pinto?

At your place or at mine? (Et iór pleice or et máine?)
Na sua casa ou na minha?

Do you like group sex? (Du iú laique grup sex?)
Você gosta de sexo grupal?

May I have your phone number? (Mei ai réve iór fone nâmber?)
Pode me dar seu telefone?

I would like to see you again tomorrow (Ai wuld laique tu ci iú aguên tumorrou)
Gostaria de te encontrar de novo amanhã.

Let's go to that dark corner? (Léts gol to dét dark corner?)
Vamos para aquela esquina escurinha?

Darling, I have only protected sex (Dárlin, Ái réve ônli protected sex)
Querido, eu só faço sexo protegido

Fonte: Uol

terça-feira, 1 de março de 2011

EMOCIONANTE e PONTUAL: primeiro pronunciamento de Jean Wyllys no Congresso Nacional

'A ganância da honra' por por Luiz Felipe Pondé para a FOLHA



Que Deus me proteja de cair na tentação da ganância da honra. Aristóteles já dizia que a honra é uma virtude pública sedutora, mas impossível para quem a busca por si mesmo.

Sobre isso, revi o grande filme de Stanley Kubrick "Glória Feita de Sangue" (1957). Outro filme que recomendo é "A Cruz de Ferro" (1977), de Sam Peckinpah.

Ambos tratam da relação entre elite (oficiais) e plebe (soldado) -Kubrick na Primeira Guerra Mundial, Exército francês nas trincheiras, Peckinpah na Segunda Guerra, força armada alemã na frente russa.

No primeiro filme, o herói, o coronel Dax (Kirk Douglas), membro da elite francesa, se vê diante de uma trama na qual três de seus soldados são condenados injustamente à corte marcial e ao fuzilamento.

São acusados de covardia quando a missão para a qual tinham sido mandados era impossível. Não foram covardes, ficaram detidos pelas condições insuperáveis da batalha.

Mas a hierarquia queria mesmo era o sangue "do gado" para animar a moral das tropas, mostrando o valor da disciplina. O desprezo do coronel Dax pela elite do Exército é evidente, apesar de ser parte dela. O general em comando apenas queria uma promoção.

Segundo o general, o "povo francês" clamava pela sua dignidade, que deveria ser honrada com o sangue dos "covardes". "Povo francês" aqui nada mais é do que a retórica da opinião pública como instrumento de pressão. Confiar no "povo francês", como em sua elite, soará ridículo neste cenário.

No segundo filme, o herói, cabo Steiner (James Coburn), vindo da plebe, ganha várias cruzes de ferro por coragem sem dar valor a nenhuma delas ("só um pedaço de metal"), enquanto um capitão de família nobre prussiana, Stransky (Maximilian Schell), um covarde oportunista, cria situações para ganhar a cruz de ferro sem correr riscos.

O desprezo do cabo Steiner pela elite é também evidente, mas não é membro dela.

Em ambos os filmes, lembramos da tese do escritor russo Tolstói (em "Guerra e Paz") sobre guerras e batalhas (que fala da vida como um todo): um caos sem ordem, sem sentido, violência gratuita, a partir do qual, após a batalha, "reconstruímos o sentido" a fim de satisfazer qualquer ponto de vista, e, assim, contarmos "a" história.

Nutro profunda simpatia por esta teoria da história de Tolstói.

Os filmes seguem cursos diferentes. De certa forma, o filme de Kubrick vai mais longe do que o de Peckinpah na crítica ao modo como o mundo se organiza (sendo a guerra e o Exército em ambos apenas o cenário ideal para demonstrar suas teses).

Enquanto em "Cruz de Ferro" a coragem tem seu lugar (a medalha, apesar de o corajoso não dar valor a ela), em "Glória Feita de Sangue" a coragem é "invisível" para a hierarquia, que trata o herói Dax como um bobo idealista.

Onde está a coragem neste caso? Está na recusa do herói Dax da promoção que receberia como forma de acomodação ao status quo.

No filme de Peckinpah, ao final, Steiner arrasta o oportunista Stransky para o campo de batalha (já arrasado pelos russos), dizendo: "Vou mostrar a você onde crescem as cruzes de ferro" (isto é, diante do inimigo).

Já no filme de Kubrick não há espaço para essa ode última à coragem nas guerras, mas sim algo mais sutil: Dax, observando seus soldados à distância, quando urram num bar diante de uma "cantora" alemã (prisioneira de guerra), percebe como, de uma horda de bárbaros, eles passam à condição de homens tocados pela fragilidade da moça e pela beleza da música que ela canta, em meio às suas lágrimas de medo. Um dos maiores momentos do cinema.

Em ambos, vemos a ruína da ordem do mundo e seus mecanismos de produção da honra (representados pela hierarquia do Exército e seus sistemas oficiais de reconhecimento da coragem e da covardia).

Neste campo devastado, sobra a coragem de um homem solitário (Steiner) e a capacidade de um idealista aristocrático (Dax) de perceber um instante efêmero no qual feras se tornam homens. Ambos impermeáveis à ganância das honras.

Pouco importa a classe social -o que conta, ao final, é a virtude de cada um como modo de ação num mundo sem honra.

Publicado no Paulopes WebBlog. O artigo foi feito para a FOLHA DE SÃO PAULO. 

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Cenas do amor de 'Julinho' e 'Thales' de 'Tititi'



Assista o novo clipe de 'Lady Gaga', 'Born This Way'



TRADUÇÃO DA LETRA:

(Born This Way) 'Nasci Assim'


Não importa se você o ama, ou O ama
Apenas levante as mãos
Pois você nasceu assim, baby

Minha mãe me dizia, quando eu era jovem
Que nós nascemos como super estrelas
Ela arrumava meu cabelo e me passava batom
No espelho de seu vestiário

"Não há nada de errado em amar quem você é"
Ela dizia, "Pois ele te fez perfeita, querida"
"Então erga sua cabeça garota e você irá longe,
Ouça-me quando eu digo"

Eu sou linda à minha maneira
Pois Deus não comete erros
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim

Não se cubra de arrependimentos
Apenas ame-se e você estará bem
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim

Ooo, não há outro jeito
Baby, eu nasci assim
Baby, eu nasci assim

Ooo, não há nada que eu possa fazer
Baby, eu nasci assim
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim

Não seja uma drag, seja simplesmente uma rainha
Não seja uma drag, seja simplesmente uma rainha
Não seja uma drag, seja simplesmente uma rainha
Não seja!

Seja prudente
E ame seus amigos
Criança oprimida, exalte sua verdade

Na religião da insegurança
Devo ser eu mesma, respeitar minha juventude

Um amor diferente não é um pecado
Acredite N-E-L-E (hey hey hey)
Eu amo minha vida e amo esse álbum e
Meu amor precisa de fé (amor precisa de fé)

Eu sou linda à minha maneira
Pois Deus não comete erros
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim

Não se cubra de arrependimentos
Apenas ame-se e você estará bem
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim

Ooo, não há outro jeito
Baby, eu nasci assim
Baby, eu nasci assim

Ooo, não há nada que eu possa fazer
Baby, eu nasci assim
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim

Não resista, seja simplesmente uma rainha
Sendo rico ou pobre
Sendo preto, branco, pardo ou albino
Sendo libanês ou oriental

Se a vida trouxe dificuldades
Te deixaram afastado, assediado ou importunado
Exalte e ame-se hoje
Pois você nasceu assim, baby

Não importa se você é gay, hétero ou bi
Lésbica ou transexual
Estou no caminho certo
Nasci para sobreviver

Não importa se é preto, branco ou pardo
Albino ou oriental
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci para ser corajoso

Eu sou linda à minha maneira
Pois Deus não comete erros
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim

Não se cubra de arrependimentos
Apenas ame-se e você estará bem
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim

Ooo, não há outro jeito
Baby, eu nasci assim
Baby, eu nasci assim

Ooo, não há nada que eu possa fazer
Baby, eu nasci assim
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim

Nasci assim, hey!
Nasci assim, hey!
Estou no caminho certo, baby
Nasci assim, hey!

Nasci assim, hey!
Nasci assim, hey!
Estou no caminho certo, baby
Nasci assim, hey!

'Aqueles Dois' - por Caio Fernando Abreu



(História de aparente mediocridade e repressão)


A verdade é que não havia mais ninguém em volta. Meses depois, não no começo, um deles diria que a repartição era como "um deserto de almas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se excluído. E longamente, entre cervejas, trocaram então ácidos comentários sobre as mulheres mal-amadas e vorazes, os papos de futebol, amigo secreto, lista de presente, bookmaker, bicho, endereço de cartomante, clips no relógio de ponto, vezenquando salgadinhos no fim do expediente, champanha nacional em copo de plástico. Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem sabe? Mas nenhum se perguntou.



Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las. Não que fossem muito jovens, incultos demais ou mesmo um pouco burros. Raul tinha um ano mais que trinta; Saul, um menos. Mas as diferenças entre eles não se limitavam a esse tempo, a essas letras. Raul vinha de um casamento fracassado, três anos e nenhum filho. Saul, de um noivado tão interminável que terminara um dia, e um curso frustrado de Arquitetura. Talvez por isso, desenhava. Só rostos, com enormes olhos sem íris nem pupilas. Raul ouvia música e, às vezes, de porre, pegava o violão e cantava, principalmente velhos boleros em espanhol. E cinema, os dois gostavam.


Passaram no mesmo concurso para a mesma firma, mas não se encontraram durante os testes. Foram apresentados no primeiro dia de trabalho de cada um. Disseram prazer, Raul, prazer, Saul, depois como é mesmo o seu nome? sorrindo divertidos da coincidência. Mas discretos, porque eram novos na firma e a gente, afinal, nunca sabe onde está pisando. Tentaram afastar-se quase imediatamente, deliberando limitarem-se a um cotidiano oi, tudo bem ou, no máximo, às sextas, um cordial bom fim de semana, então. Mas desde o princípio alguma coisa — fados, astros, sinas, quem saberá? conspirava contra (ou a favor, por que não?) aqueles dois.


Suas mesas ficavam lado a lado. Nove horas diárias, com intervalo de uma para o almoço. E perdidos no meio daquilo que Raul (ou teria sido Saul?) chamaria, meses depois, exatamente de "um deserto de almas", para não sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humanos, sem querer justificá-los — ou, ao contrário, justificando-os plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam.


II


Eram dois moços sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Saul tinha vindo do sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, do centro, do leste — e com isso quero dizer que esse detalhe não os tornaria especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos os outros tinham referenciais, uma mulher, um tio, uma mãe, um amante. Eles não tinham ninguém naquela cidade — de certa forma, também em nenhuma outra —, a não ser a si próprios. Diria também que não tinham nada, mas não seria inteiramente verdadeiro.


Além do violão, Raul tinha um telefone alugado, um toca-discos com rádio e um sabiá na gaiola, chamado Carlos Gardel. Saul, uma televisão colorida com imagem fantasma, cadernos de desenho, vidros de tinta nanquim e um livro com reproduções de Van Gogh. Na parede do quarto de pensão, uma outra reprodução de Van Gogh: aquele quarto com a cadeira de palhinha parecendo torta, a cama estreita, as tábuas do assoalho, colocado na parede em frente à cama. Deitado, Saul tinha às vezes a impressão de que o quadro era um espelho refletindo, quase fotograficamente, o próprio quarto, ausente apenas ele mesmo. Quase sempre, era nessas ocasiões que desenhava.

Eram dois moços bonitos também, todos achavam. As mulheres da repartição, casadas, solteiras, ficaram nervosas quando eles surgiram, tão altos e altivos, comentou, olhos arregalados, uma das secretárias. Ao contrário dos outros homens, alguns até mais jovens, nenhum tinha barriga ou aquela postura desalentada de quem carimba ou datilografa papéis oito horas por dia.


Moreno de barba forte azulando o rosto, Raul era um pouco mais definido, com sua voz de baixo profundo, tão adequada aos boleros amargos que gostava de cantar. Tinham a mesma altura, o mesmo porte, mas Saul parecia um pouco menor, mais frágil, talvez pelos cabelos claros, cheios de caracóis miúdos, olhos assustadiços, azul desmaiado. Eram bonitos juntos, diziam as moças. Um doce de olhar. Sem terem exatamente consciência disso, quando juntos os dois aprumavam ainda mais o porte e, por assim dizer, quase cintilavam, o bonito de dentro de um estimulando o bonito de fora do outro, e vice-versa. Como se houvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia.


III


Cruzavam-se, silenciosos mas cordiais, junto à garrafa térmica do cafezinho, comentando o tempo ou a chatice do trabalho, depois voltavam às suas mesas. Muito de vez em quando, um pedia um cigarro ao outro, e quase sempre trocavam frases como tanta vontade de parar, mas nunca tentei, ou já tentei tanto, agora desisti. Durou tempo, aquilo. E teria durado muito mais, porque serem assim fechados, quase remotos, era um jeito que traziam de longe. Do norte, do sul.



Até um dia em que Saul chegou atrasado e, respondendo a um vago que que houve, contou que tinha ficado até tarde assistindo a um velho filme na televisão. Por educação, ou cumprindo um ritual, ou apenas para que o outro não se sentisse mal chegando quase às onze, apressado, barba por fazer, Raul deteve os dedos sobre o teclado da máquina e perguntoü: que filme? Infâmia, Saul contou baixo, Audrey Hepburn, Shirley MacLayne, um filme muito antigo, ninguém conhece. Raul olhou-o devagar, e mais atento, como ninguém conhece? eu conheço e gosto muito. Abalado, convidou Saul para um café e, no que restava daquela manhã muito fria de junho, o prédio feio mais que nunca parecendo uma prisão ou uma clínica psiquiátrica, falaram sem parar sobre o filme.


Outros filmes viriam, nos dias seguintes, e tão naturalmente como se de alguma forma fosse inevitável, também vieram histórias pessoais, passados, alguns sonhos, pequenas esperança e sobretudo queixas. Daquela firma, daquela vida, daquele nó, confessaram uma tarde cinza de sexta, apertado no fundo do peito. Durante aquele fim de semana obscuramente desejaram, pela primeira vez, um em sua quitinete, outro na pensão, que o sábado e o domingo caminhassem depressa para dobrar a curva da meia-noite e novamente desaguar na manhã de segunda-feira quando, outra vez, se encontrariam para: um café. Assim foi, e contaram um que tinha bebido além da conta, outro que dormira quase o tempo todo. De muitas coisas falaram aqueles dois nessa manhã, menos da falta que sequer sabiam claramente ter sentido.


Atentas, as moças em volta providenciavam esticadas aos bares depois do expediente, gafieiras, discotecas, festinhas na casa de uma, na casa de outra. A princípio esquivos, acabaram cedendo, mas quase sempre enfiavam-se pelos cantos e sacadas para contar suas histórias intermináveis. Uma noite, Raul pegou o violão e cantou Tú Me Acostumbraste. Nessa mesma festa, Saul bebeu demais e vomitou no banheiro. No caminho até os táxis separados, Raul falou pela primeira vez no casamento desfeito. Passo incerto, Saul contou do noivado antigo. E concordaram, bêbados, que estavam ambos cansados de todas as mulheres do mundo, suas tramas complicadas, suas exigências mesquinhas. Que gostavam de estar assim, agora, sós, donos de suas próprias vidas. Embora, isso não disseram, não soubessem o que fazer com elas.

Dia seguinte, de ressaca, Saul não foi trabalhar nem telefonou. Inquieto, Raul vagou o dia inteiro pelos corredores subitamente desertos, gelados, cantando baixinho Tú Me Acostumbraste, entre inúmeros cafés e meio maço de cigarros a mais que o habitual.


IV


Os fins de semana tornaram-se tão longos que um dia, no meio de um papo qualquer, Raul deu a Saul o número de seu telefone, alguma coisa que você precisar, se ficar doente, a gente nunca sabe. Domingo depois do almoço, Saul telefonou só para saber o que o outro estava fazendo, e visitou-o, e jantaram juntos a comidinha mineira que a empregada deixara pronta sábado. Foi dessa vez que, ácidos e unidos, falaram no tal deserto, nas tais almas. Há quase seis meses se conheciam. Saul deu-se bem com Carlos Gardel, que ensaiou um canto tímido ao cair da noite. Mas quem cantou foi Raul: Perfídia, La Barca e, a pedido de Saul, outra vez, duas vezes, Tú Me Acostumbraste. Saul gostava principalmente daquele pedacinho assim sutil llegaste a mí como una tentación llenando de inquietud mi corazón. Jogaram algumas partidas de buraco e, por volta das nove, Saul se foi.


Na segunda, não trocaram uma palavra sobre o dia anterior. Mas falaram mais que nunca, e muitas vezes foram ao café. As moças em volta espiavam, às vezes cochichando sem que eles percebessem. Nessa semana, pela primeira vez almoçaram juntos na pensão de Saul, que quis subir ao quarto para mostrar os desenhos, visitas proibidas à noite, mas faltavam cinco para as duas e o relógio de ponto era implacável. Saíam e voltavam juntos, desde então, geralmente muito alegres. Pouco tempo depois, com pretexto de assistir a Vagas Estrelas da Ursa na televisão de Saul, Raul entrou escondido na pensão, uma garrafa de conhaque no bolso interno do paletó. Sentados no chão, costas apoiadas na cama estreita, quase não prestaram atenção no filme. Não paravam de falar. Cantarolando Io Che Non Vivo, Raul viu os desenhos, olhando longamente a reprodução de Van Gogh, depois perguntou como Saul conseguia viver naquele quartinho tão pequeno. Parecia sinceramente preocupado. Não é triste? perguntou. Saul sorriu forte: a gente acostuma.


Aos domingos, agora, Saul sempre telefonava. E vinha. Almoçavam ou jantavam, bebiam, fumavam, falavam o tempo todo. Enquanto Raul cantava — vezenquando El Día Que Me Quieras, vezenquando Noche de Ronda —, Saul fazia carinhos lentos na cabecinha de Carlos Gardel, pousado no seu dedo indicador. Às vezes olhavam-se. E sempre sorriam. Uma noite, porque chovia, Saul acabou dormindo no sofá. Dia seguinte, chegaram juntos à repartição, cabelos molhados do chuveiro. As moças não falaram com eles. Os funcionários barrigudos e desalentados trocaram alguns olhares que os dois não saberiam compreender, se percebessem. Mas nada perceberam, nem os olhares nem duas ou três piadas. Quando faltavam dez minutos para as seis, saíram juntos, altos e altivos, para assistir ao último filme de Jane Fonda.


V


Quando começava a primavera, Saul fez aniversário. Porque achava seu amigo muito solitário, ou por outra razão assim, Raul deu a ele a gaiola com Carlos Gardel. No começo do verão, foi a vez de Raul fazer aniversário. E porque estava sem dinheiro, porque seu amigo não tinha nada nas paredes da quitinete, Saul deu a ele a reprodução de Van Gogh. Mas entre esses dois aniversários, aconteceu alguma coisa.


No norte, quando começava dezembro, a mãe de Raul morreu e ele precisou passar uma semana fora. Desorientado, Saul vagava pelos corredores da firma esperando um telefonema que não vinha, tentando em vão concentrar-se nos despachos, processos, protocolos. Á noite, em seu quarto, ligava a televisão gastando tempo em novelas vadias ou desenhando olhos cada vez mais enormes, enquanto acariciava Carlos Gardel. Bebeu bastante, nessa semana. E 
teve um sonho: caminhava entre as pessoas da repartição, todas de preto, acusadoras. À exceção de Raul, todo de branco, abrindo os braços para ele. Abraçados fortemente, e tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro. Acordou pensando mas ele é que devia estar de luto.


Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou para a repartição pedindo a Saul que fosse vê-lo. A voz de baixo profundo parecia ainda mais baixa, mais profunda. Saul foi. Raul tinha deixado a barba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho ou mais duro, tinha um rosto quase de menino. Beberam muito nessa noite. Raul falou longamente da mãe — eu podia ter sido mais legal com ela, disse, e não cantou. Quando Saul estava indo embora, começou a chorar. Sem saber ao certo o que fazia, Saul estendeu a mão e, quando percebeu, seus dedos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo para compreenderem, abraçaram-se fortemente. E tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; o de Saul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão de Saul tocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis miúdos do cabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou a mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele esmagou sem compreender.


Afastaram-se, então. Raul disse qualquer coisa como eu não tenho mais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como você tem a mim agora, e para sempre. Usavam palavras grandes — ninguém, mundo, sempre — e apertavam-se as duas mãos ao mesmo tempo, olhando-se nos olhos injetados de fumo e álcool. Embora fosse sexta e não precisassem ir à repartição na manhã seguinte, Saul despediu-se. Caminhou durante horas pelas ruas desertas, cheias apenas de gatos e putas. Em casa; acariciou Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco antes, sem saber por quê, começou a chorar sentindo-se só e pobre e feio e infeliz e confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas não tinha fichas e era muito tarde.


Depois, chegou o Natal, o Ano-Novo que passaram juntos, recusando convites dos colegas de repartição. Raul deu a Saul uma reprodução do Nascimento de Vênus, que ele colocou na parede exatamente onde estivera o quarto de Van Gogh. Saul deu a Raul um disco chamado Os Grandes Sucessos de Dalva de Oliveira. O que mais ouviram foi Nossas Vidas, prestando atenção no pedacinho que dizia até nossos beijos parecem beijos de quem nunca amou.


Foi na noite de trinta e um, aberta a champanhe na quitinete de Raul, que Saul ergueu a taça e brindou à nossa amizade que nunca nunca vai terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocando a roupa no banheiro, muito bêbado, Saul falou que ia dormir nu. Raul olhou para ele e disse você tem um corpo bonito. Você também, disse Saul, e baixou os olhos. Deitaram ambos nus, um na cama atrás do guarda-roupa, outro no sofá. Quase a noite inteira, um conseguia ver a brasa acesa do cigarro do outro, furando o escuro feito um demônio de olhos incendiados. Pela manhã, Saul foi embora sem se despedir para que Raul não percebesse suas fundas olheiras.


Quando janeiro começou, quase na época de tirarem férias — e tinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção os chamou, perto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi direto ao assunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se a mostrá-las. Pálidos, ouviram expressões como "relação anormal e ostensiva", "desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardião da Moral. Saul baixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo e a outra erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputação-de-nossa-firma, declarasse frio: os senhores estão despedidos.


Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoço, sem se olharem nos olhos. O sol de verão escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tú Me Acostumbraste, escrita à mão por Raul numa tarde qualquer de agosto. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio.


Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cima pelos colegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse. Ai-ai, alguém gritou da janela. Mas eles não ouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina.

Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram.


domingo, 27 de fevereiro de 2011

O que aconteceu no dia do seu nascimento?



Olha que bacana. No acervo da Folha, você tem acesso à edição do jornal que foi impresso no dia de seu nascimento.

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