segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Assista o novo clipe de 'Lady Gaga', 'Born This Way'
TRADUÇÃO DA LETRA:
(Born This Way) 'Nasci Assim'
Não importa se você o ama, ou O ama
Apenas levante as mãos
Pois você nasceu assim, baby
Minha mãe me dizia, quando eu era jovem
Que nós nascemos como super estrelas
Ela arrumava meu cabelo e me passava batom
No espelho de seu vestiário
"Não há nada de errado em amar quem você é"
Ela dizia, "Pois ele te fez perfeita, querida"
"Então erga sua cabeça garota e você irá longe,
Ouça-me quando eu digo"
Eu sou linda à minha maneira
Pois Deus não comete erros
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim
Não se cubra de arrependimentos
Apenas ame-se e você estará bem
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim
Ooo, não há outro jeito
Baby, eu nasci assim
Baby, eu nasci assim
Ooo, não há nada que eu possa fazer
Baby, eu nasci assim
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim
Não seja uma drag, seja simplesmente uma rainha
Não seja uma drag, seja simplesmente uma rainha
Não seja uma drag, seja simplesmente uma rainha
Não seja!
Seja prudente
E ame seus amigos
Criança oprimida, exalte sua verdade
Na religião da insegurança
Devo ser eu mesma, respeitar minha juventude
Um amor diferente não é um pecado
Acredite N-E-L-E (hey hey hey)
Eu amo minha vida e amo esse álbum e
Meu amor precisa de fé (amor precisa de fé)
Eu sou linda à minha maneira
Pois Deus não comete erros
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim
Não se cubra de arrependimentos
Apenas ame-se e você estará bem
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim
Ooo, não há outro jeito
Baby, eu nasci assim
Baby, eu nasci assim
Ooo, não há nada que eu possa fazer
Baby, eu nasci assim
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim
Não resista, seja simplesmente uma rainha
Sendo rico ou pobre
Sendo preto, branco, pardo ou albino
Sendo libanês ou oriental
Se a vida trouxe dificuldades
Te deixaram afastado, assediado ou importunado
Exalte e ame-se hoje
Pois você nasceu assim, baby
Não importa se você é gay, hétero ou bi
Lésbica ou transexual
Estou no caminho certo
Nasci para sobreviver
Não importa se é preto, branco ou pardo
Albino ou oriental
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci para ser corajoso
Eu sou linda à minha maneira
Pois Deus não comete erros
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim
Não se cubra de arrependimentos
Apenas ame-se e você estará bem
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim
Ooo, não há outro jeito
Baby, eu nasci assim
Baby, eu nasci assim
Ooo, não há nada que eu possa fazer
Baby, eu nasci assim
Estou no caminho certo, baby
Eu nasci assim
Nasci assim, hey!
Nasci assim, hey!
Estou no caminho certo, baby
Nasci assim, hey!
Nasci assim, hey!
Nasci assim, hey!
Estou no caminho certo, baby
Nasci assim, hey!
'Aqueles Dois' - por Caio Fernando Abreu
(História de aparente mediocridade e repressão)
A verdade é que não havia mais ninguém em volta. Meses depois, não no começo, um deles diria que a repartição era como "um deserto de almas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se excluído. E longamente, entre cervejas, trocaram então ácidos comentários sobre as mulheres mal-amadas e vorazes, os papos de futebol, amigo secreto, lista de presente, bookmaker, bicho, endereço de cartomante, clips no relógio de ponto, vezenquando salgadinhos no fim do expediente, champanha nacional em copo de plástico. Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem sabe? Mas nenhum se perguntou.
Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las. Não que fossem muito jovens, incultos demais ou mesmo um pouco burros. Raul tinha um ano mais que trinta; Saul, um menos. Mas as diferenças entre eles não se limitavam a esse tempo, a essas letras. Raul vinha de um casamento fracassado, três anos e nenhum filho. Saul, de um noivado tão interminável que terminara um dia, e um curso frustrado de Arquitetura. Talvez por isso, desenhava. Só rostos, com enormes olhos sem íris nem pupilas. Raul ouvia música e, às vezes, de porre, pegava o violão e cantava, principalmente velhos boleros em espanhol. E cinema, os dois gostavam.
Passaram no mesmo concurso para a mesma firma, mas não se encontraram durante os testes. Foram apresentados no primeiro dia de trabalho de cada um. Disseram prazer, Raul, prazer, Saul, depois como é mesmo o seu nome? sorrindo divertidos da coincidência. Mas discretos, porque eram novos na firma e a gente, afinal, nunca sabe onde está pisando. Tentaram afastar-se quase imediatamente, deliberando limitarem-se a um cotidiano oi, tudo bem ou, no máximo, às sextas, um cordial bom fim de semana, então. Mas desde o princípio alguma coisa — fados, astros, sinas, quem saberá? conspirava contra (ou a favor, por que não?) aqueles dois.
Suas mesas ficavam lado a lado. Nove horas diárias, com intervalo de uma para o almoço. E perdidos no meio daquilo que Raul (ou teria sido Saul?) chamaria, meses depois, exatamente de "um deserto de almas", para não sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humanos, sem querer justificá-los — ou, ao contrário, justificando-os plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam.
II
Eram dois moços sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Saul tinha vindo do sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, do centro, do leste — e com isso quero dizer que esse detalhe não os tornaria especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos os outros tinham referenciais, uma mulher, um tio, uma mãe, um amante. Eles não tinham ninguém naquela cidade — de certa forma, também em nenhuma outra —, a não ser a si próprios. Diria também que não tinham nada, mas não seria inteiramente verdadeiro.
Além do violão, Raul tinha um telefone alugado, um toca-discos com rádio e um sabiá na gaiola, chamado Carlos Gardel. Saul, uma televisão colorida com imagem fantasma, cadernos de desenho, vidros de tinta nanquim e um livro com reproduções de Van Gogh. Na parede do quarto de pensão, uma outra reprodução de Van Gogh: aquele quarto com a cadeira de palhinha parecendo torta, a cama estreita, as tábuas do assoalho, colocado na parede em frente à cama. Deitado, Saul tinha às vezes a impressão de que o quadro era um espelho refletindo, quase fotograficamente, o próprio quarto, ausente apenas ele mesmo. Quase sempre, era nessas ocasiões que desenhava.
Eram dois moços bonitos também, todos achavam. As mulheres da repartição, casadas, solteiras, ficaram nervosas quando eles surgiram, tão altos e altivos, comentou, olhos arregalados, uma das secretárias. Ao contrário dos outros homens, alguns até mais jovens, nenhum tinha barriga ou aquela postura desalentada de quem carimba ou datilografa papéis oito horas por dia.
Moreno de barba forte azulando o rosto, Raul era um pouco mais definido, com sua voz de baixo profundo, tão adequada aos boleros amargos que gostava de cantar. Tinham a mesma altura, o mesmo porte, mas Saul parecia um pouco menor, mais frágil, talvez pelos cabelos claros, cheios de caracóis miúdos, olhos assustadiços, azul desmaiado. Eram bonitos juntos, diziam as moças. Um doce de olhar. Sem terem exatamente consciência disso, quando juntos os dois aprumavam ainda mais o porte e, por assim dizer, quase cintilavam, o bonito de dentro de um estimulando o bonito de fora do outro, e vice-versa. Como se houvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia.
III
Cruzavam-se, silenciosos mas cordiais, junto à garrafa térmica do cafezinho, comentando o tempo ou a chatice do trabalho, depois voltavam às suas mesas. Muito de vez em quando, um pedia um cigarro ao outro, e quase sempre trocavam frases como tanta vontade de parar, mas nunca tentei, ou já tentei tanto, agora desisti. Durou tempo, aquilo. E teria durado muito mais, porque serem assim fechados, quase remotos, era um jeito que traziam de longe. Do norte, do sul.
Até um dia em que Saul chegou atrasado e, respondendo a um vago que que houve, contou que tinha ficado até tarde assistindo a um velho filme na televisão. Por educação, ou cumprindo um ritual, ou apenas para que o outro não se sentisse mal chegando quase às onze, apressado, barba por fazer, Raul deteve os dedos sobre o teclado da máquina e perguntoü: que filme? Infâmia, Saul contou baixo, Audrey Hepburn, Shirley MacLayne, um filme muito antigo, ninguém conhece. Raul olhou-o devagar, e mais atento, como ninguém conhece? eu conheço e gosto muito. Abalado, convidou Saul para um café e, no que restava daquela manhã muito fria de junho, o prédio feio mais que nunca parecendo uma prisão ou uma clínica psiquiátrica, falaram sem parar sobre o filme.
Outros filmes viriam, nos dias seguintes, e tão naturalmente como se de alguma forma fosse inevitável, também vieram histórias pessoais, passados, alguns sonhos, pequenas esperança e sobretudo queixas. Daquela firma, daquela vida, daquele nó, confessaram uma tarde cinza de sexta, apertado no fundo do peito. Durante aquele fim de semana obscuramente desejaram, pela primeira vez, um em sua quitinete, outro na pensão, que o sábado e o domingo caminhassem depressa para dobrar a curva da meia-noite e novamente desaguar na manhã de segunda-feira quando, outra vez, se encontrariam para: um café. Assim foi, e contaram um que tinha bebido além da conta, outro que dormira quase o tempo todo. De muitas coisas falaram aqueles dois nessa manhã, menos da falta que sequer sabiam claramente ter sentido.
Atentas, as moças em volta providenciavam esticadas aos bares depois do expediente, gafieiras, discotecas, festinhas na casa de uma, na casa de outra. A princípio esquivos, acabaram cedendo, mas quase sempre enfiavam-se pelos cantos e sacadas para contar suas histórias intermináveis. Uma noite, Raul pegou o violão e cantou Tú Me Acostumbraste. Nessa mesma festa, Saul bebeu demais e vomitou no banheiro. No caminho até os táxis separados, Raul falou pela primeira vez no casamento desfeito. Passo incerto, Saul contou do noivado antigo. E concordaram, bêbados, que estavam ambos cansados de todas as mulheres do mundo, suas tramas complicadas, suas exigências mesquinhas. Que gostavam de estar assim, agora, sós, donos de suas próprias vidas. Embora, isso não disseram, não soubessem o que fazer com elas.
Dia seguinte, de ressaca, Saul não foi trabalhar nem telefonou. Inquieto, Raul vagou o dia inteiro pelos corredores subitamente desertos, gelados, cantando baixinho Tú Me Acostumbraste, entre inúmeros cafés e meio maço de cigarros a mais que o habitual.
IV
Os fins de semana tornaram-se tão longos que um dia, no meio de um papo qualquer, Raul deu a Saul o número de seu telefone, alguma coisa que você precisar, se ficar doente, a gente nunca sabe. Domingo depois do almoço, Saul telefonou só para saber o que o outro estava fazendo, e visitou-o, e jantaram juntos a comidinha mineira que a empregada deixara pronta sábado. Foi dessa vez que, ácidos e unidos, falaram no tal deserto, nas tais almas. Há quase seis meses se conheciam. Saul deu-se bem com Carlos Gardel, que ensaiou um canto tímido ao cair da noite. Mas quem cantou foi Raul: Perfídia, La Barca e, a pedido de Saul, outra vez, duas vezes, Tú Me Acostumbraste. Saul gostava principalmente daquele pedacinho assim sutil llegaste a mí como una tentación llenando de inquietud mi corazón. Jogaram algumas partidas de buraco e, por volta das nove, Saul se foi.
Na segunda, não trocaram uma palavra sobre o dia anterior. Mas falaram mais que nunca, e muitas vezes foram ao café. As moças em volta espiavam, às vezes cochichando sem que eles percebessem. Nessa semana, pela primeira vez almoçaram juntos na pensão de Saul, que quis subir ao quarto para mostrar os desenhos, visitas proibidas à noite, mas faltavam cinco para as duas e o relógio de ponto era implacável. Saíam e voltavam juntos, desde então, geralmente muito alegres. Pouco tempo depois, com pretexto de assistir a Vagas Estrelas da Ursa na televisão de Saul, Raul entrou escondido na pensão, uma garrafa de conhaque no bolso interno do paletó. Sentados no chão, costas apoiadas na cama estreita, quase não prestaram atenção no filme. Não paravam de falar. Cantarolando Io Che Non Vivo, Raul viu os desenhos, olhando longamente a reprodução de Van Gogh, depois perguntou como Saul conseguia viver naquele quartinho tão pequeno. Parecia sinceramente preocupado. Não é triste? perguntou. Saul sorriu forte: a gente acostuma.
Aos domingos, agora, Saul sempre telefonava. E vinha. Almoçavam ou jantavam, bebiam, fumavam, falavam o tempo todo. Enquanto Raul cantava — vezenquando El Día Que Me Quieras, vezenquando Noche de Ronda —, Saul fazia carinhos lentos na cabecinha de Carlos Gardel, pousado no seu dedo indicador. Às vezes olhavam-se. E sempre sorriam. Uma noite, porque chovia, Saul acabou dormindo no sofá. Dia seguinte, chegaram juntos à repartição, cabelos molhados do chuveiro. As moças não falaram com eles. Os funcionários barrigudos e desalentados trocaram alguns olhares que os dois não saberiam compreender, se percebessem. Mas nada perceberam, nem os olhares nem duas ou três piadas. Quando faltavam dez minutos para as seis, saíram juntos, altos e altivos, para assistir ao último filme de Jane Fonda.
V
Quando começava a primavera, Saul fez aniversário. Porque achava seu amigo muito solitário, ou por outra razão assim, Raul deu a ele a gaiola com Carlos Gardel. No começo do verão, foi a vez de Raul fazer aniversário. E porque estava sem dinheiro, porque seu amigo não tinha nada nas paredes da quitinete, Saul deu a ele a reprodução de Van Gogh. Mas entre esses dois aniversários, aconteceu alguma coisa.
No norte, quando começava dezembro, a mãe de Raul morreu e ele precisou passar uma semana fora. Desorientado, Saul vagava pelos corredores da firma esperando um telefonema que não vinha, tentando em vão concentrar-se nos despachos, processos, protocolos. Á noite, em seu quarto, ligava a televisão gastando tempo em novelas vadias ou desenhando olhos cada vez mais enormes, enquanto acariciava Carlos Gardel. Bebeu bastante, nessa semana. E
teve um sonho: caminhava entre as pessoas da repartição, todas de preto, acusadoras. À exceção de Raul, todo de branco, abrindo os braços para ele. Abraçados fortemente, e tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro. Acordou pensando mas ele é que devia estar de luto.
teve um sonho: caminhava entre as pessoas da repartição, todas de preto, acusadoras. À exceção de Raul, todo de branco, abrindo os braços para ele. Abraçados fortemente, e tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro. Acordou pensando mas ele é que devia estar de luto.
Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou para a repartição pedindo a Saul que fosse vê-lo. A voz de baixo profundo parecia ainda mais baixa, mais profunda. Saul foi. Raul tinha deixado a barba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho ou mais duro, tinha um rosto quase de menino. Beberam muito nessa noite. Raul falou longamente da mãe — eu podia ter sido mais legal com ela, disse, e não cantou. Quando Saul estava indo embora, começou a chorar. Sem saber ao certo o que fazia, Saul estendeu a mão e, quando percebeu, seus dedos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo para compreenderem, abraçaram-se fortemente. E tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; o de Saul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão de Saul tocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis miúdos do cabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou a mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele esmagou sem compreender.
Afastaram-se, então. Raul disse qualquer coisa como eu não tenho mais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como você tem a mim agora, e para sempre. Usavam palavras grandes — ninguém, mundo, sempre — e apertavam-se as duas mãos ao mesmo tempo, olhando-se nos olhos injetados de fumo e álcool. Embora fosse sexta e não precisassem ir à repartição na manhã seguinte, Saul despediu-se. Caminhou durante horas pelas ruas desertas, cheias apenas de gatos e putas. Em casa; acariciou Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco antes, sem saber por quê, começou a chorar sentindo-se só e pobre e feio e infeliz e confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas não tinha fichas e era muito tarde.
Depois, chegou o Natal, o Ano-Novo que passaram juntos, recusando convites dos colegas de repartição. Raul deu a Saul uma reprodução do Nascimento de Vênus, que ele colocou na parede exatamente onde estivera o quarto de Van Gogh. Saul deu a Raul um disco chamado Os Grandes Sucessos de Dalva de Oliveira. O que mais ouviram foi Nossas Vidas, prestando atenção no pedacinho que dizia até nossos beijos parecem beijos de quem nunca amou.
Foi na noite de trinta e um, aberta a champanhe na quitinete de Raul, que Saul ergueu a taça e brindou à nossa amizade que nunca nunca vai terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocando a roupa no banheiro, muito bêbado, Saul falou que ia dormir nu. Raul olhou para ele e disse você tem um corpo bonito. Você também, disse Saul, e baixou os olhos. Deitaram ambos nus, um na cama atrás do guarda-roupa, outro no sofá. Quase a noite inteira, um conseguia ver a brasa acesa do cigarro do outro, furando o escuro feito um demônio de olhos incendiados. Pela manhã, Saul foi embora sem se despedir para que Raul não percebesse suas fundas olheiras.
Quando janeiro começou, quase na época de tirarem férias — e tinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção os chamou, perto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi direto ao assunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se a mostrá-las. Pálidos, ouviram expressões como "relação anormal e ostensiva", "desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardião da Moral. Saul baixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo e a outra erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputação-de-nossa-firma, declarasse frio: os senhores estão despedidos.
Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoço, sem se olharem nos olhos. O sol de verão escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tú Me Acostumbraste, escrita à mão por Raul numa tarde qualquer de agosto. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio.
Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cima pelos colegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse. Ai-ai, alguém gritou da janela. Mas eles não ouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina.
Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram.
domingo, 27 de fevereiro de 2011
O que aconteceu no dia do seu nascimento?
Acesse o link: http://acervo.folha.com.br/
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
5 ferramentas que medem seu poder e fama no Twitter
Da Web |
Eis uma lista de cinco sites de classificação para o Twitter, com uma descrição de como cada um determina seu valor, posto e influência. Mesmo se não for um fã dos rankings, essas ferramentas deveriam merecer sua atenção – seus colegas e potenciais empregadores podem usá-los justamente para julgar você.
Buzzom – O recurso estatístico deste site analisa suas informações no Twitter e mostra um número de gráficos e tabelas que descrevem seu perfil e medem sua influência na Twittersfera. Seu ranking de “influência”, por exemplo, é calculado determinando-se a razão entre o número de pessoas que você segue e o número de pessoas que estão lhe seguindo (sua pontuação será mais alta se as pessoas quiserem segui-lo mesmo que você não as siga de volta). Sua pontuação de “retweet” é determinada pela freqüência com que outros retuítam suas mensagens, e sua “eficiência no Twitter” é determinada pela comparação entre sua taxa de tweet a seus seguidores – se você tuíta com freqüência e tem poucos seguidores, seus tweets são considerados “perdidos” e você receberá uma pontuação baixa. Por fim, sua pontuação geral (que o Buzzom chama de “InRev TwitIn Score”) é calculada levando todas essas pontuações em consideração.
Buzzom – O recurso estatístico deste site analisa suas informações no Twitter e mostra um número de gráficos e tabelas que descrevem seu perfil e medem sua influência na Twittersfera. Seu ranking de “influência”, por exemplo, é calculado determinando-se a razão entre o número de pessoas que você segue e o número de pessoas que estão lhe seguindo (sua pontuação será mais alta se as pessoas quiserem segui-lo mesmo que você não as siga de volta). Sua pontuação de “retweet” é determinada pela freqüência com que outros retuítam suas mensagens, e sua “eficiência no Twitter” é determinada pela comparação entre sua taxa de tweet a seus seguidores – se você tuíta com freqüência e tem poucos seguidores, seus tweets são considerados “perdidos” e você receberá uma pontuação baixa. Por fim, sua pontuação geral (que o Buzzom chama de “InRev TwitIn Score”) é calculada levando todas essas pontuações em consideração.
Topsy – O Topsy funciona principalmente como uma ferramenta de busca no Twitter, mas também categoriza os usuários do Twitter como “influentes” ou “altamente influentes” baseado em alguns fatores, incluindo com que freqüência você é citado em tweets e quão influentes são as pessoas que tuítam sobre você ou sobre os links que você publica. Por exemplo, o site afirma que “Se Alice retuíta um tweet de Bob, e Carol retuíta Alice, o tweet do Bob atingiu não apenas a audiência de Alice, mas também a de Carol”. Quanto mais influentes são as pessoas que o retuítam, maior será sua influência. O Topsy premia com o título de “altamente influente” cerca de 0,2% de seus usuários, enquanto 0,5% são considerados “influentes”.
Twinfluence – O Twinfluence lhe dá quatro rankings, depois que você entre com seu nome de usuário e permita o acesso a sua conta do Twitter. O “reach ranking” é seu ranking geral comparado com outros usuários que já foram avaliados pelo site. O porcentual próximo a esse número é seu grau; o Twitinfluence diz que um grau de 75% indica que você tem um “reach” (que é o número de seguidores que um usuário tem, mais todos os seguidores de seus seguidores) mais alto que o de ¾ de outros usuários que ele analisou.
O próximo grupo de estatísticas analisa sua “velocidade”, “capital social” e “centralização”. A velocidade mede o número de seguidores de primeiro e segundo grau atraídos por dia desde que você criou sua conta. Quanto maior esse número, mais rapidamente você tem acumulado sua influência. O capital social mede quão influente seus seguidores são. Um valor alto indica que a maioria dos seus seguidores também tem um bom número de seguidores. O capital social varia de “muito baixo” a “muito alto”, em comparação com outros cuja rede tem o mesmo tamanho que a sua. O último item, centralização, mede quanto de sua influência é investida em um pequeno número de seguidores, e é classificada de “muito frágil” a “muito resiliente”. Se você tiver baixa centralização, seu alcance não será muito reduzido se alguns usuários com perfil alto pararem de segui-lo, por exemplo.
Twitter Grader – O Twitter Grader leva seis fatores em consideração na hora de classificá-lo como usuário do Twitter: o número de seguidores que você tem (mais seguidores = maior grau), o poder de seus seguidores (se você é seguido por pessoas com um alto grau, isso conta mais), atualizações (mais geralmente equivale a um grau maior), freqüência de atualizações (uma data recente na sua última atualização lhe dará notas altas) e a taxa seguidores/seguidos (quanto maior a taxa, melhor). Esses seis fatores determinam sua pontuação. O cálculo de “grau” é a porcentagem aproximada dos outros usuários que têm uma pontuação igual ou menor. Seu posto é baseado em como os outros usuários pontuaram; essa será sua posição na lista. Schawbel diz que o Twitter Grader é sua ferramenta favorita para medição de influência no Twitter.
TwitterScore – O TwitterScore é uma ferramenta básica que julga sua “popularidade” no Twitter. Digite seu nome de usuário e dê permissão ao site para acessar sua conta. Seu “Twitter Score Report” aparecerá, dando-lhe uma posição em relação a 90 mil usuários. O relatório também mostrará o número de seguidores, amigos (que ele considera como as pessoas que você segue e que também lhe seguem), e o número de atualizações já publicadas. O TwitterScore considera essa informação (ou, como diz, “nós levamos em conta seus seguidores e a popularidade deles, a quantidade de pessoas que você segue e a quantidade de atualizações que você já publicou e outras poucas coisas...”) para determinar sua pontuação no Twitter, de zero a dez.
NOTA: o artigo é de Kristin Burnham e a matéria completa você confere aqui.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
'Queer as Folk', a série gay mais famosa de todos os tempos
Disponível na Web. |
O nome do seriado é uma brincadeira com um ditado em inglês, de "ninguém é tão estranho como nós" ("nobody is so weird as folk"), para "ninguém é tão gay como nós" ("nobody is so queer as folk").
Adaptado por Ron Cowen e Daniel Lipman, a série foi baseado no britânico Queer As Folk, de Russell T. Davies. O seriado foi dirigido por Russell Mulcahy, Bruce McDonald, David Wellington, Kelly Makin, John Greyson, Jeremy Podeswa e Michael DeCarlo e tendo como escritores principais Ron Cowen e Daniel Lipman. O seriado é distribuído pela Warner Bros. Television.
Queer As Folk narra a história de cinco homens homossexuais que vivem em Pittsburgh, Pennsylvania: Brian, Justin, Michael, Emmett e Ted. Compondo o elenco principal, ainda temos o casal de lésbicas, Lindsay e Melanie e a mãe orgulhosa de Michael, Debbie.
Entre as duas versões, existem suas diferenças do qual destacamos: a quantidade de personagens, as tramas principais e as cenas de nudez.
Este seriado é um marco na luta dos direitos GLBT, pois investe em uma trama sem cunho pornográfico ou apelativo, mostrando homossexuais como pessoas comuns, vivendo em seu dia-a-dia. As dificuldades e conquistas desta comunidade são brilhantemente retratadas nesta produção.
No Brasil, a série recebeu o nome de Os Assumidos e foi transmitida pelo canal à cabo Cinemax. Já em Portugal, a série foi chamada de Diferentes como nós e teve sua exibição durante as madrugadas no canal TVI. Em ambos países, nunca tiveram lançamento dos DVDs de suas temporadas.
Fonte: Wikipédia
Confira abaixo os vídeos de promoção das 5 temporadas do seriado:
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Medo. Modo de usar. (por Daniel Lélis)
Quem nunca sentiu medo?! Assim como a alegria, a tristeza e a ansiedade, o medo é, sem a menor sombra de dúvidas, um dos sentimentos mais constantes na vida das pessoas. Do mais novo ao mais velho, do mais ingênuo ao mais experiente, do mais rico ao mais humilde, o certo é que sentir medo é inevitável. Mas se há certeza do quão fatal é a vivência do temor, não se pode dizer o mesmo da busca por enfrentá-lo. Não são poucos os que, diante do medo, fogem de si, apavoram-se; os que, na ausência de um remédio para curar-lhes os sobressaltos, se entregam, desistem de lutar. A eles, dedico esse texto.
Quando crianças, é comum termos medo do escuro. Nossa imaginação fértil glorifica a existência de monstros incríveis e fabulosas assombrações. Chegamos a jurar de pé juntos para os nossos pais que vimos o bicho papão. Com a chegada da adolescência, nossos temores mudam de direção. Novas emoções tanto seduzem quanto atemorizam. Nossos medos, contudo, são menores que o nosso desejo de experimentar o desconhecido, por isso desbravamos, nem sempre com a precaução e moderação necessárias, novos caminhos. Passada essa fase, é hora de amadurecer. O medo, por mais que alguns finjam o contrário, continua implacável a nos acompanhar. Como lidar com ele? Como fazer dele, ao invés de um inimigo, um aliado? Finalmente, como evitar andar de mãos dadas com o temor? Não existem para estes questionamentos, logicamente, respostas prontas. Desenhemos, contudo, algumas sugestões valiosas.
Primeiro, uma certeza: ninguém vence o medo fugindo dele, fazendo de conta que ele não existe. Superar um temor envolve enfrentá-lo com coragem, firmeza e dedicação. Portanto, antes de qualquer coisa, é importante ter forças para reconhecer os seus temores. Ignorá-los é, em última análise, fortalecê-los. Sábio, portanto, é aquele que identifica o que teme, para só então dominá-lo. Conter o medo não significa, porém, subjugá-lo como desnecessário. Há medos que nos fazem refletir positivamente, podendo, por isso, nos ser úteis. O medo proveitoso, muito embora seja a exceção de uma regra volumosa, tem a solidez da prudência e o vigor da cautela; é ele que nos injeta bom senso para não permitir que nos aventuremos em um terreno de escolhas absolutamente equivocadas e das quais nos arrependeremos para o resto da vida.
Todavia, a despeito dessa hipótese benéfica, a verdade é que o medo, na maioria das vezes, sufoca possibilidades, destrói planejamentos e derruba expectativas. O medo de errar, de arriscar uma alternativa, de traçar uma nova rota, nos condena a saborear o amargo sabor do conformismo. Quem não tenta, se contenta. Driblar o medo é não se deixar sufocar por ele; é não permitir que ele dite rumos, escreva o nosso destino. Triunfar sobre o medo é impedir que ele nos proíba de buscar o que julgamos, conscientemente, ser o melhor para nós. Vencer o medo é, finalmente, saber usá-lo a nosso favor.
Daniel Lélis
Artigo publicado originalmente na JFASHION, a revista de sociedade mais badalada do Tocantins.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Divertido: aplicativo para postar mensagens de cabeça para baixo no Twitter
O FlipMyTweet é um aplicativo divertido e criativo que, simplesmente, inverte aposição do post e o deixa de cabeça para baixo.
¿ɯɐɹǝpuǝʇuǝ
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Você viu? Confira a declaração de amor gay de Thales para Julinho na novela 'Ti Ti Ti'
Não foi só Jaqueline que pôde comemorar no sábado 12. O público LGBT também. Durante a festa de aniversário surpresa para a personagem de Cláudia Raia em “Ti-Ti-Ti”, Thales (Armando Babaioff), o marido da perua, estava visivelmente incomodado com os olhares de Julinho (André Arteche) para o Dr. Eduardo (Josafá Filho).
Após o médico sair dar festa oferecendo uma carona à periguete Thaísa (Fernanda Souza), Thales oferece levar Julinho pra casa e durante a conversa se declara e revela o que todos queríamos ouvir: “Eu estou apaixonado por você”.
Agora é torcer para que o romance finalmente engate. E sem essa de que por não ter rolado beijo, não valeu a cena! Sabe o que são milhões de pessoas vendo um homem nada efeminado dizer para outro que o ama? O quanto isso é importante para nosso reconhecimento?
Matéria do site Parou Tudo. Confira a íntegra da matéria, aqui.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
SE EXPLICANDO: pela primeira vez na história, TV Globo explica porque censura beijos gays
A diretoria da Globo decidiu abrir o jogo e pela primeira vez explicou a censura da emissora às inúmeras tentativas de exibir o beijo gay.
Os esclarecimentos não foram à toa; são uma resposta à carta de Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), que no final de 2010 questionou o corte do beijo gay na minissérie Os Clandestinos (ver o vídeo do beijo cortado, aqui)
Em outro trecho, Erlanger cita a classificação indicativa determinada pelo Ministério da Justiça.“A teledramaturgia, diferentemente das questões éticas e sociais, não é o ambiente adequado para levantar bandeiras de comportamento moral no campo da sexualidade, baseada na individualidade”, afirma Luis Erlanger, diretor artístico da emissora na resposta assinada em 3 de fevereiro.
“É algo, inclusive, que substitui o poder parental, uma vez que não há a possibilidade, como no cinema, por exemplo, de os pais autorizarem a entrada de seus filhos em sessões de filmes classificados para crianças ou adolescentes mais velhos.”
O portal Terra conversou com Toni Reis, que considerou a resposta da emissora “de bom tom” e uma porta para abrir a discussão pela inclusão do beijo gay na emissora. Sobre a classificação indicativa do Ministério da Justiça, ele discorda.
“Um beijo é uma demonstração de afeto. As novelas retratam a sociedade e as pessoas têm que se acostumar com esta questão da afetividade homossexual.”
O Ministério da Justiça, em agosto de 2010 através do então secretário nacional Pedro Abramovay, afirmou que não há restrição a cenas com beijo gay em obras de dramaturgia na televisão, independente do horário de exibição.
Ao final da conversa, Toni Reis defendeu o beijo gay nas novelas como um exercício de tolerância. “É fundamental que a sociedade entenda que o afeto é normal.”
Matéria do site Dolado.
COMENTÁRIO: É importante que a TV Globo tenha se manifestado a respeito desse tema. Há muito tempo, esperam-se explicações para o corte de beijos gays da sua programação. Os argumentos usados pela diretoria da emissora, contudo, parecem longe de justificar a postura pré-histórica do maior canal do Brasil e um dos maiores do mundo. A verdade é que o beijo gay nunca foi tão esperado pelo público brasileiro. Recentemente, inclusive, um jornal britânico comentou a respeito. O título da matéria: 'Brasil inteiro espera ver beijo gay em novela' (a respeito da reportagem, clique aqui). O que me parece é que há um descompasso gigantesco entre o anseio dos telespectadores (gays ou não) e o entendimento mantido pela TV Globo. O fato é que há sim muitos que não querem por nada ver dois homens ou duas mulheres se beijando. Entretanto, há milhões de outros brasileiros que gostariam sim de ter a oportunidade de ver o afeto, a expressão do seu amor, na telinha. Outros milhões dariam tudo para ver pela primeira vez aquilo que só imaginam. Enquanto isso não acontece, precisam se contentar com o preconceito. Mostrar o beijo gay não é fazer propaganda dele, mas mostrar que ele existe e deve ser respeitado.
Daniel Lélis
Entenda a diferença entre GLBT, LGBT e GLS
Michel Platini, presidente do Estruturação - Grupo LGBT de Brasília, explica. "GLS foi criada pelo jornalista André Fischer, dono do site Mix Brasil, há mais de uma década, e tem mais a ver com atividades comerciais, como sites, boates, cafés etc, que atendem tanto não-heterossexuais quanto héteros sem preconceito. A questão muda quando se trata do movimento social. Por exemplo, lutamos pelos direitos LGBT, como no caso da adoção. Aí, seria errado colocar o "s" de simpatizante. Pois os simpatizantes, ou seja, os héteros já podem adotar. O mesmo caso é com a união civil. Esse direito é negado a LGBT, mas não aos simpatizantes. Assim, tudo bem uma boate ser GLS ou mesmo LGBT, mas não há como falarmos de um projeto de lei pró-GLS ou de cidadania GLS." E então, exclui-se os simpatizantes? "Claro que não! Essa categoria, simpatizante, só existe praticamente no Brasil. Temos orgulho tanto disso quanto de ser o único movimento social que faz referência sempre a quem não o integra de forma mais estrita, mas que o apóia. Só é bom as pessoas saberem as situações às quais cada sigla se adequa melhor", frisa Platini. O ato em comemoração ao 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT, em Brasília, é exemplo de um híbrido entre as duas posições. O nome oficial do evento tem a sigla LGBTS. "Somos uma das poucas paradas do Brasil que tem simpatizante na sigla oficial, talvez a única. Fizemos isso porque tem todo o sentido falar em orgulho simpatizante, orgulho de ser uma pessoa sem preconceito e que repele a homofobia. E como os simpatizantes são fundamentais! Na nossa parada, 27,5% dos participantes não são LGBTs (aqui minúsculo para indicar plural. Quando maiúsculo, indica simpatizante), diz Sônia Regina, coordenadora da parada da capital federal. LGBT, GLBT ou LGBTTT? LGBT é a ordem das letras aprovada na I Conferência Nacional LGBT, realizada em junho de 2008. Desde então, de forma oficial, o movimento brasileiro e o governo federal deixaram de usar o GLBT. Foi uma decisão recente, logo estará mais difundida", diz Platini. A troca fez com que o movimento arco-íris nacional se alinhasse, de forma atrasada, à sigla mais utilizada na Europa e na América do Norte. A letra l na frente é uma forma de dar destaque à luta das lésbicas, que sofrem com o machismo e a invisibilidade social. Quanto à letra t dobrada ou até triplicada, algumas entidades pelo Brasil as adotam, mas, como foi aprovado em 2008, na sigla oficial, um único t serve para representar tanto travestis, quanto transexuais e transgêneros. Sopa de letrinhas Você ficou meio confuso com tantas siglas, calma, não é tudo. Há variações pelo mundo à fora. Um exemplo vem da Colômbia, que é conhecida no movimento por usar mais comumente LGBTTQI. O que são as duas últimas letras? Q de queer, cujo significado é ser estranho, mas que é muito utilizado de forma negativa para xingar uma pessoa de gay nos países de língua inglesa. Como meio de atuação política, o movimento, alguns gays e parte de estudiosos do tema utilizam a expressão de forma a dar-lhe um sentido positivo. Quanto ao i, trata-se das/os intersex, de forma mais simples, os hermafroditas (que nascem com orgãos sexuais de homem e de mulher). Sobre tantas letras, Platini recorre à história para defendê-las. "No início da década de 80, se falava movimento gay ou homossexual. Isso era errado porque não reconhecia a luta, as identidades e as bandeiras de bissexuais, das pessoas trans e, no primeiro caso, de lésbicas. À medida que fomos amadurecendo, vieram as siglas. Elas são importantes. Muitos falam de sopa de letrinhas, que é confuso etc. Preferimos esclarecer o que pode figurar como chato a ceder a um simplismo que reforçaria algo contra o que lutamos: discriminação, invisibilidade." Cuidado com a diversidade Na procura por denominar a diversidade LGBT, surgem nomes bastante impróprios. Embora adotada até por alguns governantes em órgãos oficiais, parte do ativismo LGBT rejeita a expressão diversidade sexual, que trataria da diversidade de sexo, aí se referindo a homem ou mulher ou a práticas de coito. E não se trata disso. "Se for para utilizar a palavra diversidade, que ela seja usada de forma correta: diversidade de orientação sexual (homo, bi e heterossexual) e de identidade de gênero (pessoas trans). Algo fora disso não está correto.", afirma Platini. Aprenda e dê uma aula sobre nossas siglas GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) - mais aplicado ao mercado (bares, cafés, restaurantes etc) que tem como foco homossexuais, bissexuais e pessoas trans, mas que recebe sem nenhuma restrição heterossexuais que não possuem preconceito. LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) - sigla mais adequada ao lado político do tema. Aplicado em expressões como cidadania LGBT, preconceito contra LGBT, parada LGBT etc. Adotada oficialmente no Brasil desde 2008. GLBT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais) - forma anterior a 2008 para se referir ao caráter político do movimento social arco-íris. Está caindo em desuso. A matéria, toda ela, é do site Somos Todos Iguais. |
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
'Milk', cinebiografia sobre ativista gay, é uma das atrações da TV Record para 2011
Um dos destaques do pacote de filmes que fará parte da programação da TV Record em 2011 é Milk (2008), cinebiografia do ativista gay Harvey Milk, interpretado por Sean Penn. Milk foi o primeiro político homossexual assumido, militante da causa, a assumir um cargo público na Califórnia dos anos 1970. Sua trajetória inspira até hoje milhares de pessoas que se dedicam a fazer desse mundo um lugar melhor para se viver.
Trailler do longa:
Daniel Lélis
“Gay e muçulmano? Como assim?”
Essa é a pergunta mais ouvida por Adnan Ali, um paquistanês que mora no Rio e luta por uma difícil causa: a aceitação de homossexuais pelo islã.
Num colégio interno de Lahore, no Paquistão, o menino sunita Adnan Ali, então com 13 anos, mal podia esperar pelas orações do fim da tarde. Na mais importante prece do dia, estudantes das duas correntes do islã – sunitas e xiitas – se reuniam. Era a oportunidade que ele tinha de ver Jamal, um jovem xiita de 15 anos que estudava em outro pavilhão, destinado aos alunos mais velhos. Durante as preces, os dois cruzavam a linha que os separava para orar lado a lado – os sunitas, maioria, rezavam à frente da mesquita, e os xiitas ficavam na parte de trás. De vez em quando, enquanto faziam os movimentos em respeito a Alá, suas mãos se tocavam, em um ritual que se repetia todos os dias.
Disponível na Web |
O desafio de Adnan começou em casa. Quando era adolescente, seus pais abriram uma carta amorosa de um jovem endereçada a ele. Além de ter recebido uma surra, Adnan teve de prometer que jamais falaria com o remetente. Ele diz se lembrar de um vizinho arrastado por policiais para fora de casa depois de ser flagrado num ato sexual com outro homem. Adnan nunca mais o viu. “Geralmente não se sobrevive à punição”, afirma. No Paquistão, onde a lei islâmica tem forte influência sobre a legislação civil, a homossexualidade ainda pode ser punida com a pena capital.
A família de Adnan só tolerava sua condição porque era praticamente sustentada pelo dinheiro de seu trabalho, principalmente enquanto esteve empregado na área de reservas do hotel Marriott de Islamabad, capital paquistanesa. “Isso me dava um passe livre para fazer o que quisesse. De certa forma, comprei a aceitação de meus pais.” Em 1996, ele ganhou uma bolsa para estudar produção teatral na Inglaterra e foi embora. Três anos depois, já integrado à pequena comunidade de gays assumidos de origem muçulmana no Reino Unido, Adnan fundou a representação britânica da ONG americana Al-Fatiha, destinada a auxiliar essa minoria no mundo islâmico – Al-Fatiha, que significa “a abertura” em árabe, é o nome do primeiro capítulo do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos. O trabalho de Adnan virou tema de um documentário da rede de TV britânica Channel 4, em 2006. A aparição no programa lhe rendeu umafatwa (sentença) de líderes religiosos islâmicos, condenando-o à morte – a mesma decisão aplicada nos anos 90 ao escritor indiano Salman Rushdie por sua obra Versos satânicos. Mas Adnan diz não temer a sentença: “Não significa absolutamente nada para mim. Continuo a viver minha vida normal e a mostrar meu rosto”.
O Alcorão chama de “um povo de insensatos” os homens
que se aproximam de outros homens
Adnan reconhece a dificuldade de sua luta. Afirma que nem mesmo a comunidade gay sabe lidar muito bem com seus integrantes do islã. “A reação costuma ser: ‘Gay e muçulmano, como assim?’.” Dentro do islamismo, aceitar gays seria o mesmo que reescrever o Alcorão, na visão das autoridades religiosas. “Tudo o que Deus criou foi em forma de casal. Homem, animais e até plantas. Nada do mesmo sexo produz frutos”, afirma o xeque xiita Ali Abou Raya, imame (sacerdote) da Mesquita Mohammad Mensageiro de Deus, em São Paulo. “É preciso deixar claro que o homossexualismo nunca será liberado na jurisprudência islâmica. A orientação é direta e clara.”
Abou Raya cita duas passagens do Alcorão para justificar sua posição. Ambas descrevem o que teria acontecido aos habitantes de Sodoma e Gomorra. Na sura (capítulo) 27, versículo 55, o livro sagrado faz referência a homens que se aproximam de outros homens e os chama de “um povo de insensatos”. O outro trecho é a sura 11, versículo 78, no qual o profeta Lot pede a seu povo, “que desde antanho havia cometido obscenidades”, que tema a Deus. Para Abou Raya, é um recado aos gays. “O profeta os adverte a não cometer essas relações”, diz. Militantes gays como Adnan argumentam que as passagens referem-se a atos de sodomia e de estupro praticados entre pessoas do mesmo sexo, e não a relações homossexuais consensuais, entre dois adultos.
Para a religião islâmica, a homossexualidade é vista como algo reversível, ou seja, um pecado do qual é possível se redimir. “Se um muçulmano homossexual acredita que sua condição seja natural, ele deixa de fazer parte do islamismo. Mas se ele reconhece que está passando por uma dificuldade, um problema psicológico, então passa a ser um pecador que deve receber ajuda de sua comunidade religiosa”, afirma o xeque sunita Jihad Hassan Hammadeh, presidente do Conselho de Ética da União Nacional das Entidades Islâmicas. Hammadeh afirma que o islamismo condena o preconceito, mas reconhece que nem sempre “algumas pessoas” dentro do mundo islâmico agem de forma tolerante. Basta recordar uma declaração do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ao discursar em 2007 para alunos da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos. Respondendo à pergunta de um estudante sobre como gays eram tratados no Irã, disse: “Lá não há gays como em seu país; não temos esse fenômeno”.
No Rio de Janeiro, há pouco menos de um ano, Adnan ainda está conhecendo o universo GLS da cidade. Diz estar com vontade de ir a um bar gay na Gávea e conheceu alguns ativistas durante um seminário anti-homofobia. “Não vou muito à praia, embora goste de sentar na areia e ler um livro. Já fui ao Posto 9 (em Ipanema) muitas vezes, e é legal ver as bandeiras com o símbolo gay (arco-íris) tremulando”, afirma. Como no Brasil a comunidade muçulmana é pequena, ele dá apoio a gays brasileiros de qualquer credo, por meio de um círculo de amigos na internet. Assim conheceu um jovem baiano que, ao se descobrir gay, passou a pensar em suicídio. “Eu tenho conversado com ele para fazê-lo desistir da ideia. Gosto de pensar que continuo útil pela minha causa.”
A matéria é da Revista Época. aUTORES: FERNANDO SCHELLER COM JULIANO MACHADO
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