A diretoria da Globo decidiu abrir o jogo e pela primeira vez explicou a censura da emissora às inúmeras tentativas de exibir o beijo gay.
Os esclarecimentos não foram à toa; são uma resposta à carta de Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), que no final de 2010 questionou o corte do beijo gay na minissérie Os Clandestinos (ver o vídeo do beijo cortado, aqui)
Em outro trecho, Erlanger cita a classificação indicativa determinada pelo Ministério da Justiça.“A teledramaturgia, diferentemente das questões éticas e sociais, não é o ambiente adequado para levantar bandeiras de comportamento moral no campo da sexualidade, baseada na individualidade”, afirma Luis Erlanger, diretor artístico da emissora na resposta assinada em 3 de fevereiro.
“É algo, inclusive, que substitui o poder parental, uma vez que não há a possibilidade, como no cinema, por exemplo, de os pais autorizarem a entrada de seus filhos em sessões de filmes classificados para crianças ou adolescentes mais velhos.”
O portal Terra conversou com Toni Reis, que considerou a resposta da emissora “de bom tom” e uma porta para abrir a discussão pela inclusão do beijo gay na emissora. Sobre a classificação indicativa do Ministério da Justiça, ele discorda.
“Um beijo é uma demonstração de afeto. As novelas retratam a sociedade e as pessoas têm que se acostumar com esta questão da afetividade homossexual.”
O Ministério da Justiça, em agosto de 2010 através do então secretário nacional Pedro Abramovay, afirmou que não há restrição a cenas com beijo gay em obras de dramaturgia na televisão, independente do horário de exibição.
Ao final da conversa, Toni Reis defendeu o beijo gay nas novelas como um exercício de tolerância. “É fundamental que a sociedade entenda que o afeto é normal.”
Matéria do site Dolado.
COMENTÁRIO: É importante que a TV Globo tenha se manifestado a respeito desse tema. Há muito tempo, esperam-se explicações para o corte de beijos gays da sua programação. Os argumentos usados pela diretoria da emissora, contudo, parecem longe de justificar a postura pré-histórica do maior canal do Brasil e um dos maiores do mundo. A verdade é que o beijo gay nunca foi tão esperado pelo público brasileiro. Recentemente, inclusive, um jornal britânico comentou a respeito. O título da matéria: 'Brasil inteiro espera ver beijo gay em novela' (a respeito da reportagem, clique aqui). O que me parece é que há um descompasso gigantesco entre o anseio dos telespectadores (gays ou não) e o entendimento mantido pela TV Globo. O fato é que há sim muitos que não querem por nada ver dois homens ou duas mulheres se beijando. Entretanto, há milhões de outros brasileiros que gostariam sim de ter a oportunidade de ver o afeto, a expressão do seu amor, na telinha. Outros milhões dariam tudo para ver pela primeira vez aquilo que só imaginam. Enquanto isso não acontece, precisam se contentar com o preconceito. Mostrar o beijo gay não é fazer propaganda dele, mas mostrar que ele existe e deve ser respeitado.
Daniel Lélis